domingo, 28 de julho de 2013

Associação portuguesa suporta escola para 125 crianças na Guiné-Bissau

Cento e vinte cinco crianças de Bissau tiveram ensino pré-primário no último ano letivo graças a uma escola criada pela organização portuguesa Afectos com Letras, que está a angariar fundos para construir outro estabelecimento na capital guineense.


A Guiné-Bissau é um dos países mais pobres do mundo, em que só um terço das crianças vai à escola primária (segundo dados recolhidos em 2010) e em que a educação pública tem sofrido com várias greves de professores devido a salários em atraso.


"Graças à ajuda que temos, o sonho foi realizado", refere Bitisanta Sia, de 37 anos, professora na escola da tabanca (aldeia) Djoló: é uma casa com um pátio largo coberto e rodeado de cinco salas equipadas com mesas, cadeiras, quadros e material educativo doado em Portugal.


Tem cinco professores, uma funcionária auxiliar e está a funcionar desde 2010.


A escola está no bairro de São Paulo que, como outros na capital, é servido apenas por caminhos em terra batida, esburacados e atravessados por valas, com habitações degradadas e dispersas.


À volta não há nada igual àquela escola e sem ela "estas crianças iam ficar fora" do sistema educativo, destaca Bitisanta.


Em vez disso, chegam a "finalistas", o que quer dizer que estão prontas para continuar os estudos no ensino básico.


Graciana Nanque, seis anos de idade, foi uma dessas "finalistas" que na sexta-feira recitou com convicção um "juramento" em português, ensaiado para a cerimónia de fim de ano letivo e em que prometeu dar bom uso às capacidades e conhecimentos adquiridos.


"Faço muita coisa na escola", explicou à agência Lusa na festa em que as crianças mostraram, entre outras coisas, como sabem escrever as vogais e o próprio nome.


Graciana e Nhibló Bercil, outra colega de seis anos, articularam palavras em português, com a ajuda da professora, para explicar que aquilo que mais gostam de fazer na escola "é cantar".


Iniciativas como esta "preenchem um enorme vazio" no país, referiu Ramos Horta, representante das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, depois de assistir à festa.


"Os setores da educação e saúde têm sofrido muito ao longo das décadas", referiu à agência Lusa, esperando que o futuro traga estabilidade política que permita aumentar o investimento público nestas áreas.


O projeto na tabanca Djoló nasceu a partir de um contacto da Afectos com Letras com as Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo, uma missão italiana ali estabelecida desde 1980, da qual uma das responsáveis continua no bairro.


Em Varela, a norte do país, é apoiado pela mesma associação portuguesa um estabelecimento semelhante, com 85 crianças, em parceria com outra organização não governamental de desenvolvimento (ONGD).


No último ano, a Afectos com Letras canalizou 19 mil euros para as duas escolas, explicou à agência Lusa a presidente Joana Benzinho, sem esconder que "as dificuldades financeiras em Portugal" estão a criar obstáculos.


A organização tem em curso uma campanha de recolha de fundos para fazer uma nova escola noutro bairro de Bissau, com um orçamento que ronda os 50 mil euros: a construção "é cara" no país e é necessário um furo que garanta água com qualidade e painéis solares para fornecerem eletricidade.


Outra ambição consiste em criar uma biblioteca para 1436 crianças da ilha de Pecixe: as ruínas de uma igreja portuguesa foram colocadas à disposição da ONGD que conta já com o apoio de um grupo de arquitetos portugueses para a obra.


Neste caso, o projeto deverá ver a luz do dia em dezembro, concluiu Joana Benzinho.

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