quinta-feira, 4 de julho de 2013

OPINIÃO - Jorge Heitor: Não são os nomes que importa, são novas mentalidades dos militares guineenses

O representante do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para a Guiné-Bissau, o antigo Presidente timorense José Ramos-Horta, pessoa com muitos apoios nos Estados Unidos, tenciona organizar a partir de 11 de Julho um seminário destinado a calendarizar a modernização das Forças Armadas. Coisa que nos últimos sete anos tanto a União Europeia como Angola já tentaram, sem êxito.


Ramos-Horta, que precisa de mostrar que está a fazer algo de útil em Bissau, depois de os timorenses não lhe terem querido dar um novo e segundo mandato à frente da República, entende que o seu jovem país pode dar um contributo para a tão necessária modernização das Forças Armadas da Guiné-Bissau, onde o peso
dos oficiais e dos sargentos é excessivo, quando comparado com o número de praças.


Para além de ser preciso, necessário e urgente reformular por completo os sectores guineenses da Defesa e da Segurança, que tantos problemas têm dado por não saberem de forma alguma o que seja um Estado de Direito, importa muito em especial, na presente conjuntura, conseguir afastar da chefia do Estado-Maior General o general António Indjai, que os Estados Unidos acusam de envolvimento no tráfico de cocaína e no tráfico de armas para as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).


Para além disso, Indjai já de há muito deveria ter sido afastado por ter ameaçado de morte o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, em pleno centro de Bissau, aquando de uma das frequentes interferências dos militares na vida pública.


Dizem agora algumas notícias, mas o próprio Estado-Maior já o desmentiu, que António Indjai poderá muito bem ter como sucessor o general Tomás Djassi, de 45 anos, secretário-geral da Guarda Nacional.  E outros nomes atirados para a arena são os de Daba Na Walna e de Júlio Cabi.


Nestas circunstâncias, o que se poderá dizer que o que importa não é sobretudo o nome das pessoas, mas sim o seu estado de espírito. Não é por Djassi ou Na Walna serem um bocado mais novos do que o general Indjai que merecem muito mais confiança do que ele, se acaso estiverem eivados dos mesmos vícios de formação.


A instituição militar guineense surgiu em 1974 da antiga guerrilha e ainda nunca se conseguiu libertar do complexo de que ela é que foi fundamental para acabar com o colonialismo e alcançar a independência; ainda nunca conseguiu reformular a sua mentalidade, ao longo destes 39 anos, desde que Portugal reconheceu que nada mais tinha a ver com a administração deste território.


Portanto, o seminário previsto para o período de 11 a 31 de Julho vai ser fundamental para toda a gente compreender que não é de nenhum Djassi, Na Walna ou Cabi que as Forças Armadas guineenses
necessitam, se acaso eles pensarem da mesma forma que Bubo Na Tchuto ou António Indjai. No futuro, os oficiais da Guiné-Bissau terão de respeitar escrupulosamente qualquer Presidente da República ou qualquer Governo que o povo escolher, remetendo-se ao seu papel específico de guardar as fronteiras.


*Jorge Heitor, que na adolescência tirou um Curso de Estudos Ultramarinos, trabalhou durante 25 anos em agência noticiosa e depois 21 no jornal PÚBLICO, tendo passado alguns períodos da sua vida em Moçambique, na Guiné-Bissau e em Angola. Também fez reportagens em Cabo Verde, em São Tomé e Príncipe, na África do Sul, na Zâmbia, na Nigéria e em Marrocos. Actualmente é colaborador da revista comboniana Além-Mar e da revista moçambicana Prestígio.

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