Bissau, (Lusa) - Após 40 anos de independência, há viúvas de combatentes guineenses que pouco recebem de pensões por parte do Estado e que recorrem ao apoio de uma associação para sobreviver e cuidar dos filhos.
A Associação das Viúvas dos Combatentes da Liberdade da Pátria, com sede em Bissau, junta 350 mulheres, mas o total de viúvas de combatentes será muito maior, se se somarem as que residem fora da capital, em locais onde a organização não consegue chegar.
Só olhando à realidade com que a organização lida todos os dias, há casos graves de mulheres desamparadas "que têm de fazer de tudo para sustentar os filhos e pagar uma renda de casa", refere a presidente da associação, Maria Elisabete Correia.
É para estas situações de maior carência que é conduzido milho, batata e outros bens produzidos pelas mulheres em vários hectares de terra da organização, lavrado às portas da capital.
Noutras situações, é concedido microcrédito a viúvas que depois devolvem o dinheiro com três meses de trabalho, seja em costura, agricultura ou outras áreas, em que as receitas revertem para a associação.
"Conforme o rendimento fazemos a divisão: quem tem mais necessidade, de imediato recebe apoio", descreve a presidente.
Algumas viúvas queixam-se mesmo de não receber qualquer pensão, mas o ministro de transição com a pasta da Segurança Social, Ocante da Silva, desmente: "se houver um caso desses, que se dirija ao ministério" para ser resolvido, disse à Lusa.
Aquele responsável reconhece, no entanto, que há "discrepâncias enormes nos valores pagos em pensões" e refere que o governo de transição está a estudar novas tabelas que deixará prontas para um próximo executivo - para uma eventual aplicação no orçamento de Estado de 2014.
Para além das baixas pensões, num dos países mais pobres do mundo, as viúvas querem mais garantias para os filhos: perderam o pai e cada mãe quer pelo menos assegurar que eles tenham formação, refere Maria Elisabete Correia.
Oficialmente, só nas listagens de associadas, a organização conta com cerca de 800 filhos de combatentes pela independência, mas o número será previsivelmente muito maior.
Fatumata Ba Vamain, outra viúva que participa nas atividades da associação, gostava que o garantisse habitação nos casos de maior carência, sendo que muitos desses casos ainda estão por identificar.
Situação que leva Maria Injai, outra das associadas, a pedir meios para recensear as viúvas fora da capital.
A propósito dos 40 anos de independência da Guiné-Bissau, as viúvas gostavam que a paz fosse a principal prenda para o país.
"Eu acho que agora falta a independência que nos permita a construção do país", refere Maria Martins, porta-voz da organização.
Para o conseguir, é preciso que haja paz, e a receita para a alcançar é simples: "que os guineenses se unifiquem, como na luta pela liberdade da pátria", em que "não havia raças", afastando os discursos divisionistas, baseados nas diferentes etnias do país.
"Para que a para que a Guiné-Bissau seja como os outros países, é preciso que pessoas se sentem à mesma mesa e conversem", acrescenta a presidente.
Pela sede da associação passam, todos os dias, pelo menos uma dezena de mulheres, que se ocupam das tarefas do quotidiano.
Outras ocupam-se dos terrenos agrícolas, como Aua Dabo, que gostava que houvesse um governo que oferecesse um trator à associação, para lavrar a "bolanha" (campo de arroz).
"Já provamos que sem trator, nem nada, conseguimos lavrar três hectares de terra", concluiu, para mostrar que uma viúva isolada pode ter problemas, mas "a união faz a força".
Lusa
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