Dois analistas políticos da Guiné-Bissau de diferentes gerações pintam um quadro negro do país, que consideram estar longe das expetativas dos principais obreiros da independência, há 40 anos.
João de Barros, 63 anos, jornalista e diretor do jornal Gazeta de Bissau, nasceu antes da independência do país (em 1973), enquanto Bamba Koté, 35 anos, cientista político, nasceu já com a Guiné-Bissau independente.
Mesmo sendo de gerações diferentes, ambos têm a mesma visão: de que em 40 anos de independência "pouco foi feito que valesse a pena".
O diretor do primeiro jornal privado da Guiné-Bissau diz que o "único elemento" que os guineenses podem exibir ao mundo e que pode ser reconhecido como válido em 40 anos de independência "é o cineasta Flora Gomes".
"Fazer cinco longas-metragens num país como é a Guiné-Bissau é obra", defendeu João de Barros, que culpa a classe politica e militar por aquilo que considera ser um desastre nacional.
O jovem cientista político Bamba Koté até compreende as dificuldades de afirmação do novo estado da Guiné-Bissau, mas, volvidos 40 anos, não aceita que se diga que o país está como está devido à falta de preparação dos responsáveis políticos e militares.
Koté, analista e comentador político da rádio Bombolom FM, diz ainda que nos primeiros anos da independência "fez-se muita coisa", nomeadamente, a adesão do país aos organismos internacionais, um "capital" que afirma estar a ser desperdiçado nos últimos anos.
Nesse particular, João de Barros aponta a falta de qualidade dos quadros e uma geração de "dirigentes anacrónicos e desatualizados sem capacidade de prever o futuro", como fatores que continuam a empurrar o país contra as regras internacionais de boa governação.
"A classe política guineense continua a fugir dos parâmetros internacionais de uma boa governação e isso é que nos tem conduzido para este desastre a que assistimos hoje", frisou João de Barros.
Para este analista, é de todo impossível desenvolver o país com os dirigentes atuais e os quadros residentes.
A diáspora guineense, com mais de dois mil médicos, outros tantos professores e técnicos qualificados, seria a solução, observou João de Barros, mas não acredita na abertura de espírito dos dirigentes para avançar nessa direção.
No entanto, João de Barros afirma que o futuro da Guiné-Bissau "terá que ser outro" ao considerar que qualquer regime tem 40 anos de maturação.
"Está-se a chegar ao fim do regime que governou a Guiné-Bissau nestes 40 anos", defende João de Barros.
O jovem Bamba Koté entende que o futuro até poderá ser risonho, desde que a Guiné-Bissau arranje mecanismos para "sair do impasse" em que se encontra, derivado das clivagens políticas que acabaram por ditar o bloqueio por parte da comunidade internacional.
"Há muita incerteza. Por exemplo, não sabemos se vamos ter eleições este ano ou não", observou, referindo-se às eleições gerais marcadas para 24 de novembro, mas para as quais falta dinheiro, que tem que ser dado pela comunidade internacional.
Para Bamba Koté, tirando as clivagens políticas, a Guiné-Bissau "tinha tudo para dar certo", por ser um país relativamente pequeno em tamanho (pouco mais que 36 mil quilómetros quadrados), com uma população reduzida (1,7 milhões de habitantes) e potencialmente rico em recursos naturais.
João de Barros diz que o caso da Guiné-Bissau não é o único em África e aponta a vizinha Guiné-Conacri como um dos países potencialmente mais ricos do mundo, mas que devido à desorganização e corrupção é dos mais pobres do planeta.
"Quando falta qualidade, com a corrupção e a desorganização, mesmo sendo potencialmente rico, é-se sempre pobre. É o nosso caso", concluiu João de Barros.
Agência Lusa
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