Circular na capital da Guiné-Bissau é difícil para qualquer cidadão e pode transformar-se num pesadelo para Pomo Barbosa, deficiente motora que hoje mostrou aos jornalistas como é quase impossível ir ao principal mercado da cidade.
O mercado do Bandim é formado por centenas de vendedores ao longo da Avenida Combatentes da Liberdade da Pátria que ocupam passeios e bermas de forma desordenada.
Apesar de ser a principal zona comercial de Bissau, os deficientes sentem-se excluídos: não há condições para passar em cadeiras de rodas e as dificuldades são imensas para quem usa muletas ou outras formas de apoio.
É o caso de Pomo Barbosa: hoje só com ajuda conseguiu subir e descer a escadaria de uma das passagens superiores do Bandim: "isto custa, é muito difícil", desabafou.
A zona mais movimentada da cidade serviu de exemplo numa conferência de imprensa em que a Federação de Pessoas Portadoras de Deficiência da Guiné-Bissau pediu às autoridades mais atenção para as pessoas desabilitadas.
Fransual Dias, presidente da federação, pretende trabalhar com o Governo de transição para definir "uma estratégia nacional para as pessoas com deficiência", que preveja "medidas ao nível da mobilidade, formação e emprego".
Nas passagens superiores do mercado do Bandim, o problema pode ser resolvido com a construção de rampas, mas a nível nacional o trabalho é mais vasto: é necessária uma nova cultura que inverta a discriminação de pessoas com deficiência.
"É uma discriminação que, por tradição, começa logo nas famílias", que tentam "esconder" quem nasce com problemas, descreve Fransual Dias.
Para remar contra a maré, a federação, com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), prevê realizar na próxima semana uma reunião com o parlamento guineense.
"O objetivo é que se faça uma estratégia nacional com leis" que acautelem as situações de exceção dos cidadãos deficientes, refere Gorka Gamarra, encarregado do projeto de Direitos Humanos do PNUD na Guiné-Bissau.
O PNUD da apoio técnico à federação e está disponível para depois trabalhar com o governo na preparação do quadro legislativo.
A Federação de Pessoas Portadoras de Deficiência da Guiné-Bissau recebeu um financiamento do PNUD no valor de 3,4 milhões de francos CFA (cerca de 5200 euros) para o período de 8 de julho a 8 de setembro.
A verba está a ser utilizada na criação de material de comunicação sobre a situação dos deficientes no país, assim como em ações de sensibilização, formação de jornalistas e contactos com diversas autoridades.
Agência Lusa
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