terça-feira, 24 de setembro de 2013

Último membro dos Cobiana Djazz quer recuperar banda histórica da Guiné-Bissau

Rui Davys, último membro vivo da formação inicial dos Cobiana Djazz, quer ressuscitar o nome da banda que lutou pela independência da Guiné-Bissau, contou o antigo teclista à agência Lusa.

Liderada por José Carlos Schwarz e Aliu Bari, a banda foi lançada em dezembro de 1971 e as músicas em crioulo fizeram furor nos bailes e nas rádios guineenses como hinos contra o colonialismo.

Foi uma luta que valeu a pena, mas com um sabor amargo, diz hoje Rui Davys, 67 anos, trabalhador na Alfândega de Bissau.

"A cem por cento não posso dizer que valeu", mas "o principal foi feito: temos a nossa nacionalidade", refere, numa conversa marcada por alusões à instabilidade política e militar que a Guiné-Bissau tem vivido internamente.

Hoje, "o povo é livre de se expressar, muito embora, entre aspas, mas já não estamos sob o jugo do colonialismo, por isso, valeu a pena", descreve.

"O facto de termos a nossa nacionalidade, só, não chega: precisamos de mais coisas, sobretudo de mãos amigas e misericordiosas que nos possam ajudar a gerir a Guiné-Bissau", refere.

Com 40 anos passados sobre a independência, Davys não tem dúvidas de que se os Cobiana Djazz ainda estivessem ativos haveria muito para escrever e cantar sobre a Guiné-Bissau.

Hoje, no país, acredita que "é preciso fazer uma sangria, mudar tudo e pôr tudo de novo", um trabalho que não terá resultados "se não tivermos mudado a consciência, que é a coisa mais difícil num homem".

Depois da morte de Aliu Bari, em julho, em Lisboa, Davys começou a pensar numa forma de perpetuar o nome da banda, em conjunto com a cantora Tchuma Bari, 25 anos, filha do antigo colega dos Cobiana Djazz.

"Estou a perspetivar fazer renascer o que já existiu", diz Davys, mas prefere guardar para mais tarde os detalhes sobre o tipo de organização que poderá fazer reativar o nome da banda.

Tchuma Bari prepara para outubro o lançamento de um novo disco, intitulado "Nha terra" (Minha terra), nome de uma música do pai, que ambos cantaram, e que faz parte do novo álbum que inclui 14 temas - de vários estilos, dos mais tradicionais como a tina, à salsa ou house.

São músicas que falam da "terra guineense", das pessoas "que têm o dom para reinar" e "de paz", ingrediente essencial "para realizar os nossos sonhos", referiu a cantora à Lusa.

Tal como Davys, também Tchuma Bari sonha em reativar o nome dos Cobiana Djazz: "precisamos de continuar com o trabalho que tinham iniciado para a independência e desenvolvimento", acrescentou.

Rui Davys recorda que a banda funcionava em articulação com o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo-Verde (PAIGC), chegando a receber mensagens do cofundador, Amílcar Cabral, através da rede clandestina de militantes.

Sempre em crioulo, as letras dos Cobiana Djazz eram escritas de maneira a incluir mensagens subtis contra o colonialismo, umas vezes dirigidas aos portugueses, outras vezes como forma de galvanizar os guineenses.

"Nem tudo era percebido", sublinha Davys, que apesar dos problemas que se vivem na Guiné-Bissau acredita no futuro do país: "enquanto há vida, há esperança".

Agência Lusa

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