Bissau - A "subida brusca" dos preços da quase totalidade dos produtos de primeira necessidade, e a falta de alguns deles nos mercados da Guiné-Bissau, nos últimos dias, está a agitar comerciantes e consumidores guineenses.
"Não se percebe. Está tudo mais caro.E o mais grave é que há produtos que não há à venda. Não sabemos o que se passa",
disse Fanta Djaló, uma das mulheres, designadas 'bideiras' (vendora) que enchem o mercado do Bandim, principal centro
comercial da Guiné-Bissau.
As 'bideiras' afirmam que os preços subiram 'num abrir e fechar de olhos'. E enumeram os produtos hoje mais caros, ou mesmo fora de circulação, sem que haja uma explicação para tal: Cebola, alho, batata inglesa, farinha, arroz, açúcar, carne, peixe, leite, feijão, calda e esparguete.
"Não há alho. Aliás, nos últimos dias, alguns 'bideiros' trouxeram pouca quantidade. Mas estão a vender uma cabeça de alho por 250 francos. Nem sei onde vamos parar com esses preços loucos", afirmou Fanta que vende bolinhos "para dar sustento lá em casa". Numa situação normal, o alho é vendido a 100 francos CFA por cabeça.
"Os nossos maridos não trabalham. Se trabalham não recebem.Temos que ser nós a vender aqui para dar sustento lá em casa. Se não fosse isso, quem pagava a comida e a escola dos meninos. Quem?", questiona, a vendedora.
A quase totalidade dos produtos de primeira necessidade consumidos na Guiné-Bissau é importada dos vizinhos Senegal,
Guiné-Conacri ou Gambia. Alguns vêm também de Portugal ou do Brasil.
Quintino Patricio, um jovem que ganha a vida consertando sapatos tem uma teoria para o 'desaparecimento' do alho ou a sua
subida do preço no mercado guineense.
"O alho passou a ter muito valor. É que agora muita gente come alho cru. Dizem que combate os diabetes, o colesterol e é bom para as ressacas. Talvez por isso, os 'bideiros' decidiram subir-lhe o preço. Sei lá", disse o jovem Patrício, entre sorrisos.
Mais a sério, Numo Embaló, comerciante, diz não compreender o que se passa no mercado guineense. Ele prefere falar do arroz e do açúcar, cujos preços também dispararam nos últimos tempos.
"O arroz subiu, o açúcar subiu de preço, mas praticamente não há no mercado. O Governo devia ver isto", notou Numo Embaló,
que vende sandálias de plástico e "algumas coisinhas de vestir".
Maria Costa, por seu lado, sublinha "muitas das coisas que comemos vêm de fora. É verdade.Mas há muita coisa que nós
temos aqui no nosso país,e que nestes dias não há no mercado", frisou a 'bideira' de pão do Bandim.
"Sempre ouvi dizer que temos peixe em abundância no nosso mar. Peixe não vem de fora, então porque é que não há peixe nestes dias?", questionou Maria Costa, culpando as autoridades pela falta do produto.
Uma dona de casa, que não se quis identificar, disse à Lusa que cada vez mais tem sido difícil "ir à feira" (expressão guineense
que quer dizer ir às compras no mercado do Bandim) com menos de cinco mil francos CFA.
"Eu 'fazia a feira' com dois mil ou dois mil e quinhentos francos CFA, mas estes dias vejo-me sempre a desenrascar, para
conseguir comprar as coisas que pretendo", afirmou a senhora, no meio da confusão característica do conhecido mercado.
A semana passada, a Associação dos Consumidores de Bens e Serviços (Acobes) chamou a atenção do Governo para a subida de preços dos produtos no mercado. Terça-feira o Presidente da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá, recebeu 100 toneladas de açúcar, oferecidos pelo seu homólogo senegalês, Abdoulaye Wade.
No entanto, os preços continuam a crescer.
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