Opinião
Artigo publicado no Bissau Digital
Depois de no passado domingo as autoridades guineenses terem anunciando a aceitação da entrada de uma Força de Estabilização internacional no país, a Presidência da República vem agora em comunicado oficial, desmentir as declarações do porta-voz da reunião, Soares Sambú.
Esta desautorização de Sambú, até agora considerado o mais notável dos conselheiros do Presidente Malam Bacai Sanhá é um sinal claro de um recuo da política presidencial de captar apoios na comunidade Internacional.
Malam, que em várias entrevistas afirmou não ser um «presidente zig-zig», expressão usada para classificar as suas múltiplas mudanças de sentido político, volta agora a dar sinais de ceder à pressão das chefias militares guineenses, que continuam a ditar a orientação do poder político na Guiné Bissau.
Desde as movimentações de 01 de Abril lideradas por António Indjai, e que levaram à detenção do então CEMGFA Zamora Induta e do Primeiro Ministro Carlos Gomes Júnior, libertado poucas horas depois, que diferentes organizações internacionais em que a Guiné-Bissau tem assento, designadamente CPLP, CEDEAO, UA e NU, reclamaram em uníssono a normalização da situação política e militar no país. A Comunidade internacional continua a exigir o restabelecimento da hierarquia militar subvertida a 01 de Abril, fruto da associação de António Indjai, actual CEMGFA, com a manutenção das estruturas do narcotráfico entre a classe militar guineense.
Na Cimeira da CPLP realizada em Luanda em Julho último, o Presidente Angolano José Eduardo dos Santos pressionou o seu homologo guineense para aceitar a presença de militares Angolanos na Força de Estabilização. O interesse angolano na participação nesta força foi justificado em Luanda como uma forma de defender os interesses nacionais na Guiné-Bissau. José Eduardo dos Santos terá também convencido Malam Bacai Sanha de que esta Força poderia ser como uma espécie de «guarda pretoriana» que defendesse o Presidente Guineense de futuras ingerências dos militares no destino do país.
Fontes diplomáticas angolanas em Bissau confirmam esta versão dos acontecimentos, adiantando que Malam terá olhado para a Força de Estabilização como «o seu seguro de vida» para garantir a sua segurança no momento da apresentação dos resultados do processo de investigação às mortes de «Nino» Vieira e Tagme Na Waie.
Se a política de Malam Bacai Sanhá tem vindo a ser marcada por constantes avanços e recuos, António Indjai tem vindo a aproveitar estes sucessivos jogos políticos para cimentar a sua posição. No entanto, Indjai sabe que as FA’s guineenses são o reflexo do estado do país. Forças desapontadas e desiludidas com o que consideram ser a «humilhação de se subjugarem ao poder militar estrangeiro». Uma situação considerada pelas fontes diplomáticas como explosiva e que estará a ser aproveitada e instigada por uma ala política há muito fora dos corredores do poder e que assenta a sua mensagem política no radicalismo étnico.
Depois de «queimar» Soares Sambú no passado domingo, o Presidente Malam vem agora rectificar a sua posição através de um novo comunicado em que declara que nenhuma decisão está tomada, mas apenas lançado o debate sobre os moldes em que uma eventual Força de Estabilização seria aceite. O Comunicado é também o sinal da ascensão de uma nova forma de impor a presença estrangeira, baseada na obtenção de consensos através do diálogo entre as forças vivas guineenses. As fontes contactadas pelo Luanda Digital referem que este novo processo é personificado pela acção do conselheiro Agnelo Regalla, responsável nos últimos meses por uma autêntica ofensiva de charme que a Guiné-Bissau efectuou junto de Portugal, Angola, Cabo-Verde, e União Europeia.
A política zig-zig que tem caracterizado Malam Bacai reflecte as diferentes sensibilidades existentes no seu núcleo de conselheiros. Na actual conjectura guineense, terá chegado a altura do Presidente dar finalmente a cara pelas decisões, assumindo a sua estratégia política, ainda que tal possa chocar de frente com os interesses instalados dos militares, empresários e forças políticas sectárias da Guiné-Bissau.
Rodrigo Nunes
(c) PNN Portuguese News Network
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