Lisboa - Manelinho Lopes, destacado deputado do PAIGC lançou no passado sábado, aos microfones da rádio Pindjiguiti, fortes críticas contra Portugal. Para o deputado, o actual estado da Guiné-Bissau é fruto da influência de «Portugal e de pessoas que são apoiadas por Portugal».
Se até agora esta tentativa de culpabilização de Portugal era falada apenas à porta fechada, não deixa de ser também notória a tentativa de usar o nome Portugal como referência a governantes guineenses que receberam o apoio da Comunidade Internacional logo após as movimentações militares de 01 de Abril.
Nos meses mais recentes, Malam Bacai Sanhá, Carlos Gomes Júnior e o próprio Zamora Induta deslocaram-se a Portugal em visitas oficiais que permitiram o estabelecimento de acordos de cooperação entre os dois países em vários domínios, e o reforço dos laços históricos e afectivos entre os dois povos. Aliás, as movimentações militares do início de Abril surgiram exactamente quando as autoridades guineenses consideravam estar numa nova fase de estabilidade no país, facto reconhecido internacionalmente, sobretudo devido ao efectivo combate ao narcotráfico.
Se a nível internacional o trabalho efectuado nos últimos meses pelas autoridades guineenses era reconhecido, a nível interno a situação era diferente. Numa classe política divida em clãs e alas alimentadas por projectos pessoais, elementos das ditas elites guineenses preferiram o silêncio à condenação do que a 01 de Abril toda a Comunidade Internacional considerou ser uma tentativa de alterar da ordem constitucional. Quinze dias depois, o silêncio começa a ser quebrado.
Manelinho Lopes acusou os «homens de Portugal» como única razão da instabilidade guineense nos últimos anos. Há um ano, a Guiné-Bissau viu morrer algumas das suas principais figuras políticas, num caso onde se suspeita do envolvimento das redes do narcotráfico. Há quinze dias, um CEMGFA é preso, um vice-CEMGFA toma as ruas pelo poder das armas e ameaça matar o Primeiro-Ministro, um militar golpista regressa impunemente a circular nas ruas da capital. Hoje, o silêncio daqueles que afinal não estão acima de qualquer suspeita começa a ser quebrado.
Mas em Bissau há também os que incriminam Portugal de ter uma postura pouco interventiva. O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, tem resistido a uma política externa «agressiva». No período logo após a morte do Presidente da República «Nino» Vieira e do CEMGFA Tagme Na Waie, Luís Amado manteve-se imune às pressões para o envio de uma força de interposição militar. Pressões externas, caso do Brasil e da CEDEAO, e internas da estrutura militar Portuguesa.
Nos últimos anos, Portugal tem apoiado a Guiné a concretizar os sonhos de Amílcar Cabral, posicionando-se na linha da frente quando na Europa se discute a pertinência da manutenção da missão PESD para a reforma do sector da segurança, quando envia dezenas de professores para fomentar o ensino da língua, nas missões de cooperação técnico militar e policial e até mesmo na ajuda ao orçamento de Estado. Portugal tem-se mantido como o principal doador de ajuda ao desenvolvimento da Guiné-Bissau, não monopolizando a exploração de minérios nem exigindo fidelidades cegas. A sua principal motivação é o respeito pela ordem constitucional e em retirar à Guiné-Bissau o cognome de Narco-Estado.
O narcotráfico, e todos os actores que giram à volta da chamada «economia da cocaína», é o grande desafio à estabilidade da Guiné-Bissau e a grande ameaça às autoridades guineenses, legitimamente eleitas por uma população que a 01 de Abril invadiu Bissau para clamar respeito pelos valores da Democracia Moderna.
Rodrigo Nunes
(c) PNN Portuguese News Network
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