Bissau – O PAIGC está à beira de um ataque de nervos face às suas divisões internas envoltas de grande silêncio. A ala dos derrotados no Congresso de Gabú ressurge discretamente.
A tentativa de Golpe de Estado de 01 de Abril desencadeada por uma facção dos militares guineense liderados pelo vice Chefe de estado Maior Geral das Forças Armadas, António Indjai, teve como alvo principal a destituição do incómodo CEMGFA Zamora Induta, mas também o Primeiro Ministro, Carlos Gomes Júnior «Cadogo», presidente do PAIGC.
O PAIGC, partido no poder, poderia ter reagido imediatamente e unanimemente a favor do seu presidente e chefe do Governo. Mas não. A acção «interna militar», como definiu o Chefe de Estado, Malam Bacai Sanha, pretendia atingir, além de Zamora, também o PAIGC. No partido do poder guineense, os militares encontraram uma ala de apoio que contribuiu para o arrastamento da crise política e militar.
Soares Sambú, discretamente, reaparece em cena. Em plena crise, acompanha o Presidente numa visita relâmpago a 07 de Abril a Luanda. Além de ser Conselheiro para os Assuntos Diplomáticos da Presidência, Soares Sambú é também o aliado de Angola em Bissau. Uma relação incrementada por interesses comuns quando, durante o Governo de Martinho Cabi, Sambú detinha firmemente a pasta dos Recursos Naturais e «negociou», em 2007, a concessão da exploração mineira no Boé com a Bauxite Angola SA.
Assim, a presença de Soares Sambú em Luanda a 07 de Abril não foi uma surpresa. Por outro lado, Sambú é uma das figuras proeminentes do PAIGC e reputado por «estar sempre presente nos bons momentos e ausente nos maus». No entanto, nunca aceitou de bom grado, o facto de ter perdido a pasta dos Recursos Naturais, mas encara como um «bom momento» transitório ser conselheiro do Presidente, aproximando-se, assim, do trampolim para a liderança de um PAIGC dividido e vulnerável a uma investida relâmpago.
Mas, «Cadogo» na presidência do PAIGC e Chefe do Governo é um entrave à desejada ascensão de Soares Sambú, que já beneficia do apoio de alguma «nomenklatura» angolana.
Carlos Gomes Júnior enfrenta, além dos militares revoltosos, uma ala interna do seu partido que ainda não encontrou líder mas tem os seus acólitos, especializados nas movimentações partidárias. Daniel Gomes, Marciano Silva Barbeiro, Roberto Ferreira Cacheu, Soares Sambú, Braima Camará e Francisco Conduto de Pina, um antigo fiel de «Nino» Vieira, são os nomes que tentam subverter a liderança. Todos eles são tidos como próximos do actual Presidente da República, Malam Bacai Sanhá.
Esta oposição silenciosa teve início logo após o Congresso do PAIGC em Gabu, de 26 de Junho a 02 de Julho de 2008, quando Malam Bacai Sanha e Martinho Dafa Cabi tentaram, sem sucesso, assumir a liderança do partido. Soares Sambú, Daniel Gomes e Marciano Silva Barbeiro saíram também derrotados quando apoiaram a lista de Martinho Dafa Cabi, claramente vencido por «Cadogo».
O PAIGC vive um momento de divisão interna nas suas fileiras. Por um lado, uma elite de fiéis a Malam Bacai Sanha, derrotados em Gabú, que neste momento ocupam lugares de destaque nos órgãos de soberania guineense. Por outro, as estruturas de base do PAIGC, os militantes do partido e o próprio eleitorado guineense afecto ao PAIGC e que lhe deu a clara maioria parlamentar de que dispõe, apoiam incondicionalmente «Cadogo» e não tolerarão qualquer alteração da liderança.
Ambas as forças não baixam armas, mas contribuem para o sentimento de instabilidade Governativa do partido vitorioso nas legislativas, PAIGC.
A revolta militar de António Indjai beneficiou Malam Bacai Sanha, que de certa forma contribuiu para que ela acontecesse, e consequentemente Soares Sambú, que tentarão agora, uma vez mais, assumir a liderança perdida do PAIGC durante o «fatídico» Congresso de Gabú.
Rodrigo Nunes
(c) PNN Portuguese News Network
Sem comentários:
Enviar um comentário