sábado, 15 de maio de 2010

VOLTANDO COSTAS À HISTÓRIA



Jornal Digital -14 maio 2010

Lisboa - A aparente acalmia que reina na Guiné-Bissau mais não é do que uma miragem. As questões que estiveram na origem da crise de 01 de Abril de 2010 permanecem por resolver e, a qualquer momento, pequenos desenvolvimentos podem levar à implosão da estrutura política e militar.

A Guiné-Bissau não aguenta mais, o povo está farto e quer o fim desta paz podre. A Comunidade Internacional está farta, ameaçando retirar-se deste cenário cíclico de instabilidade. A paciência começa a esgotar-se e apesar da urgência da acção, há que temperar as medidas adoptadas com as ameaças que diariamente consomem aqueles que têm o poder de decisão.

Perante este cenário, urge promover a reconciliação entre as elites políticas, papel que a Comunidade Internacional tem evitado, procurando sinais de que os seus apoios não resultarão em nomeações que legitimem a Guiné-Bissau como narco-estado.

Mas será esta postura de desvinculação a opção correcta? Num momento como este, os principais parceiros têm de demonstrar que estão do lado da legitimidade democrática, reforçando a acção daqueles que procuram contrariar a tomada do poder pelo jugo militar. Será já essa a estratégia de alguns parceiros africanos que recentemente entabularam conversações com o Presidente Malam Bacai Sanhá, caso de Cabo Verde e do Senegal.

E onde fica Portugal? Será que este parceiro histórico permanece na sombra com receios da conotação que aquela adjectivação lhe confere? Será que a política externa lusa se centrou de tal forma na vertente europeia que olvidou as suas ligações históricas à Guiné-Bissau? Em Bissau, os que são contra o regresso da normalidade democrática e se escudam em acusações infundadas de ingerência lusa para promover as suas acções ilegítimas agradecem esta aparente passividade!

No entanto, os que prezam as relações seculares entre os dois países perguntam-se «Onde está Portugal?»…estranhamente, desde os acontecimentos de 01 de Abril de 2010, que ocorreram pouco depois da passagem por Lisboa de Malam Bacai Sanhá e de Carlos Gomes Júnior em visitas oficiais, nenhum dignatário português procurou esclarecimentos sobre o que se passava em Bissau! Nenhum manifestou publicamente qual a sua posição perante o rumo que o país tomou. Os temores de acusações de neo-colonialismo e de um grupo armado que tomou os altos cargos militares não devem impedir uma acção directa, uma intervenção ansiada por todos aqueles que procuram apoio para restabelecer a normalidade democrática.

A Comunidade Internacional espera um sinal, a Guiné-Bissau espera apoio…não se dever gorar as expectativas de um povo irmão numa altura em que os sinais podem passar despercebidos pela nuvem de fumo que ainda paira sobre o país.

Rui Neumann

(c) PNN Portuguese News Network

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