Por
MICHELLE SOUSA
Direto de João Pessoa
Direto de João Pessoa
A estudante de Letras da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Kadija Tu, 23 anos, prestou queixa, na tarde desta terça-feira, por agressão física e racismo contra Wagner da Silva Pereira, 28 anos, que oferecia serviços de cartões de crédito. A jovem é natural de Guiné Bissau, vive há três meses em João Pessoa (PB). Ela ficou internada por quase 24 horas em um hospital de emergência, em virtude de uma crise nervosa.
A confusão que envolveu Kadija e Wagner aconteceu na tarde de segunda, dentro da UFPB. Em depoimento prestado à delegada da Mulher Renata Matias, a estudante disse que se recusou a fazer um cartão de crédito oferecido por Wagner e que ele teria feito um gesto obsceno que ela desconhecia.
Ao descobrir o significado do gesto, Kadija teria ido conversar com Wagner para tomar satisfações. "Ela contou que ele teria negado o gesto, que a agrediu verbalmente e depois fisicamente com um pontapé na região do tórax", afirmou a delegada. Renata confirmou que a estudante alegou que as agressões verbais tinham conteúdo racista.
A agressão foi presenciada por diversas pessoas. Testemunhas afirmam que o vendedor teria chamado a estudante de "negra cão". Ele foi conduzido pela Polícia Militar até 4ª Delegacia, no bairro do Geisel.
A delegada Juvanira Holanda, que registrou a ocorrência, disse que não considerou o caso racismo. O incidente foi registrado como injúria e vias de fato e o acusado foi liberado.
No entanto, para o Procurador Federal Duciran Farena trata-se de um caso claro de discriminação racial. "Dizer que não há racismo em chamar o outro de 'negro-cão' ou de 'negro safado' é revelar desconhecimento da lei. Se vítima e agressor vivessem juntos, será que a delegada iria dizer que houve apenas injúria e vias de fato, para não aplicar a Lei Maria da Penha?", disse.
O Ministério Público Federal pediu oficialmente o afastamento da delegada do caso, mas o inquérito já tinha sido transferido para a Delegacia da Mulher, para onde a estudante foi levada para prestar queixa assim que deixou o hospital. Abalada, ela não quis dar declarações à imprensa. O hospital confirmou que Kadija teve crise nervosa.
Os amigos da comunidade africana também procuraram a Polícia Federal. "A PF ficou de acompanhar o caso. A primeira delegada não chegou nem mesmo a pedir um exame de corpo delito", disse o amigo da jovem Jorge Fernandes, também estudante de Guiné Bissau. Segundo ele, mais ou menos 45 alunos de países da África estudam na UFPB, mas isso nunca havia acontecido.
Ao assumir o caso, a delegada da Mulher disse que deve chamar o acusado para novo depoimento e pediu exame de corpo delito. Para ela, o trauma psicológico da agressão provocou a crise nervosa. "Vou começar a ouvir as testemunhas para esclarecer melhor o que aconteceu", afirmou Renata Matias.
Wagner Pereira garante que não teve atitude racista contra a estudante, mas confessou que errou ao chutá-la. Ele disse que houve apenas um cumprimento de mãos entre os dois e que horas depois, ela teria vindo tirar satisfação já bastante alterada. "Ela passou dez minutos correndo atrás de mim e jogando pedras, quando não aguentei mais a chutei como forma de defesa que acabou sendo uma agressão. Ela bateu e voltou, caindo em cima de mim. Depois teve uma crise nervosa", afirmou.
Wagner disse que gritou com a estudante a chamando de "doida" e não de "negra cão". "Não era para ter tomado essa proporção e por causa disso fui demitido por justa causa e vou responder a processo na polícia", disse.
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