segunda-feira, 10 de maio de 2010

Impasse político-militar ameaça segurança do país


Oficiais querem escolha de novo chefe militar, e processo contra Zamora pode comprometer primeiro-ministro.

A Guiné-Bissau continua a viver dias difíceis, enquanto se mantém o impasse político-militar resultante da crise de 1 de Abril, quando o número dois das forças armadas, António Indjai, prendeu o chefe do Estado-Maior, Zamora Induta, e deteve por algumas horas o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior. Em Bissau há um clima de medo e aquilo que uma fonte que falou sob anonimato classificou de "paz podre".

Os militares no poder exigem a saída de Carlos Gomes Júnior e continuam à espera que seja nomeado o novo chefe das forças armadas. A maioria dos oficiais defende que o cargo deve ser exercido pelo major-general Indjai, mas a nomeação cabe ao primeiro-ministro, que está ausente do país, em Cuba, onde foi submetido a uma intervenção cirúrgica de limpeza de veias coronárias.

Entretanto, a Assembleia Nacional Popular aprovou a eliminação do cargo de vice-chefe de Estado-Maior. Deputados da oposição juntaram-se a uma facção substancial do PAIGC (o partido de Carlos Gomes). Refira-se que o PAIGC tem dois terços da assembleia, o que indica que o primeiro--ministro já perdeu o controlo do partido.

Falta a promulgação da lei pelo Presidente Malan Bacai Sanhá, mas esta movimentação indica que Indjai terá de ser nomeado a curto prazo no posto máximo das forças armadas.

Bissau está sob intensa pressão internacional para respeitar a ordem constitucional anterior. A UE adiou a missão que visava aplicar a reforma da defesa, apesar de tudo "sem fechar a porta", e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) enviou uma missão militar cujo porta-voz reconheceu que as autoridades estão a "lidar bem com a situação". O general liberiano Abdurhamane Shuray reconheceu, após falar com Malan Bacai, que "cabe a Bissau decidir o que tem de fazer".

Zamora encontra-se preso em Mansoa, a 60 quilómetros de Bissau. O DN apurou que o chefe de Estado-Maior está em boas condições de saúde. Mas as suas possibilidades de regressar ao cargo são mínimas: em causa, no golpe que o derrubou, está um conflito de gerações; Zamora pertence a uma geração de oficiais mais novos, que os veteranos da guerra não respeitam. Antes de 1 de Abril, alguns antigos combatentes não escondiam o seu descontentamento e acusavam Zamora de ser manipulado por Carlos Gomes Júnior, que por sua vez era contestado no próprio PAIGC.
A Procuradoria-Geral está a preparar uma acusação contra Zamora Induta que poderá estender--se ao primeiro-ministro.

Um dos elementos centrais do golpe foi o ex-chefe da Marinha, Bubo Na Tchuto, cuja reintegração não está prevista, o que constitui um problema adicional: Bubo não aceita um lugar de subalternidade. Existe ainda a incógnita do narcotráfico, cujos tentáculos se desconhecem, mas que se adivinham profundos.

A situação muito tensa leva as pessoas contactadas a falarem de "clima de medo" e a temerem um novo conflito. "Este não é o país de Amílcar Cabral", dizia ao DN um alto funcionário que não quis ser identificado.

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