Bissau - Zamora Induta e Samba Djaló já terão sido ouvidos pela Comissão de Audição Militar constituída na sequência das movimentações militares de 01 de Abril, lideradas por António Indjai.
Ainda que os resultados não sejam para já públicos, as primeiras indicações referem a existência de claras divisões internas entre os oficiais superiores militares presentes nas audições.
Fontes da Comissão de Audição Militar revelaram,que o caso Zamora Induta e Samba Djaló está a ser aproveitado por António Indjai para servir uma estratégia de culpabilização do Primeiro Ministro Carlos Gomes Júnior, com argumentos que tentam envolver a Comunidade Internacional e, em particular, Portugal. Este ataque será uma tentativa de resposta à resistência demonstrada por vários actores internacionais à tentativa de alteração da ordem constitucional da Guiné-Bissau desencadeada pelos militares a 01 de Abril. O objectivo primário da estratégia de Injai é o enfraquecimento do apoio popular de que Carlos Gomes Júnior goza, e que lhe valeu a vitória nas últimas eleições legislativas em 2008, tentando, simultaneamente, desviar as atenções públicas das severas acusações que começam a ser divulgadas sobre o seu envolvimento no narcotráfico e como principal obreiro de muitos actos que tenta agora imputar a Zamora Induta.
Estas conclusões, que ainda não são públicas, estão já a criar acesa discussão entre as chefias militares, notando-se já os primeiros sinais de contestação e crítica à liderança de António Indjai, entre os oficiais de elevada patente guineense, assim como um forte desapontamento pela forma como a Comissão de Audição Militar está a ser manipulada. Em causa estará o que alguns consideram ser uma «trama forjada» por António Indjai, instigado por alguns dos assessores do Presidente Malam Bacai Sanhá, com o objectivo de através das acusações a Zamora implicar o Primeiro Ministro. Num tal cenário, a dissolução do actual Governo e a tomada do poder por elementos do interior do próprio partido de Carlos Gomes Júnior, o PAIGC, tornar-se-ia viável.
Portugal será o alvo secundário desta estratégia. Entre outros, é acusado de ter tido conhecimento dos casos das mortes de Março e Junho de 2009, que culminaram nas mortes de Tagme Na Waie, o ex-Presidente da República «Nino» Vieira, Hélder Proença e Baciro Dabó. Além disso, Portugal é acusado de neocolonialismo, com referências de apoios ao CEMGFA Zamora Induta. Segundo a interpretação dada pelos elementos fiéis a António Indjai na Comissão de Audição Militar, estes apoios serão reflexo de atitudes de «ingerência» nos assuntos internos da Guiné-Bissau.
Dados oficiais obtidos relativos à cooperação Técnico-Militar guineense indicam que Portugal tem sido o principal parceiro da Guiné-Bissau. Nos últimos anos, a cooperação tem abrangido os vários ramos das Forças Armadas guineenses. Na Marinha, vários contentores foram entregues a Bubo Na Tchuto, pouco antes deste abandonar o cargo de CEMA. Talvez devido a essa alteração súbita na liderança da Marinha, este material acabou por tomar um destino desconhecido, nunca tendo sido entregue aos soldados. Já com Zamora Induta como CEMGFA a cooperação manteve-se aos níveis do passado, visando a melhoria das condições reais nos quartéis e o reforço das capacidades operacionais das Forças Armadas guineenses, bem como o apoio ao combate ao narcotráfico que Induta pretendeu fazer.
António Indjai, o novo homem forte dos militares guineenses, procurará a continuação desta recolha internacional de apoio, mas agora mais junto de parceiros africanos, nomeadamente da Líbia. Mais do que um mero reorientar das origens da cooperação técnico militar, o plano de Indjai é um sinal claro de um «virar de costas» aos países da Comunidade Internacional que nos últimos anos mais têm apostado na reforma das Forças Armadas guineenses, questão central no actual contexto da Guiné-Bissau.
Rodrigo Nunes
(c) PNN Portuguese News Network
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