Amine Saad, Procurador-Geral da República da Guiné-Bissau, têm-se mantido na sombra ao longo do processo iniciado a 01 de Abril com as detenções do CEMGFA Zamora Induta e do Primeiro Ministro Carlos Gomes Júnior, posteriormente libertado.
Com o desenrolar do processo de acusação a Zamora Induta, acusado de desvio de dinheiro e constituição de um exército privado pelo novo homem forte António Indjai, os processos de investigação às mortes do ex-Presidente «Nino» Vieira e do ex-Chefe de Estado Maior, Tagme Na Waie, bem como das mortes de Hélder Proença e Baciro Dabó, ex-Ministro da Administração Territorial poderão sofrer, também eles, desenvolvimentos significativos.
As revelações relativas a estes processos, que se encontravam «adormecidos», poderão trazer a lume factos que resultarão num volte-face na actual situação da Guiné-Bissau. A Justiça Guineense, acusada até agora de completa inoperância pela Comunidade Internacional, aparenta estar agora determinada a levar à barra do Tribunal os culpados pelos assassinatos, independentemente das posições que possam ocupar hoje na hierarquia de poder do país.
No último mês, o Ministério Público guineense têm-se desmultiplicado em contactos internacionais, nomeadamente com os EUA, para conquistar apoios na luta contra o narcotráfico. Esta nova estratégia resulta do reconhecimento da falta de meios e de capacidade para recolha de provas, algumas delas evidentes, contra elementos-chave na estrutura das Forças Armadas e nos principais partidos políticos.
O homem que lidera o Ministério Público, Amine Saad, é reconhecido como um dos melhores juristas guineense. Homem de muitas valências, tem um passado notável, tendo já desempenhado o cargo de Procurador-Geral da República durante a Presidência de Koumba Yalá, de quem é amigo e de quem foi, até à sua tomada de posse, advogado de defesa. Os seus bons ofícios como advogado valeram-lhe uma carteira de clientes repleta de nomes sonantes, alguns dos quais não pelas melhores razões. Entre estes últimos, destaca-se o Grupo Sakala muitas vezes acusado de envolvimento de actividades ilícitas.
Estas características profissionais de Amine terão levado a ser proposto como Procurador Geral da República pelas próprias chefias militares, Zamora Induta e António Indjai, sobretudo por empenho deste último. Conhecido como um homem que persegue os seus objectivos de forma determinada, a revelação do assassino de Tagme Na Waie, do qual era bastante próximo, poderá estar para breve. Amine já prometeu publicamente que a investigação a este caso está em fase avançada e que a fase de inquérito está praticamente concluída.
O PGR é reconhecido em Bissau como sendo uma das poucas pessoas capaz de levar até ao fim a investigação a este e aos outros casos, apesar das acusações de parcialidade que muito lhe fazem. Porém, é-lhe também reconhecida uma grande ambição, tendo-se sempre posicionado junto de quem ocupa o poder, consoante os interesses que procura satisfazer. Depois da proximidade a Koumba Yalá, Amine Saad tornou-se um dos homens fortes do Malam Bacai Sanhá, depois de ter mediado a aproximação entre o actual Presidente da República guineense e António Indjai.
Numa altura em que os guineenses olham com expectativa para a evolução política e militar no país, é cada vez mais um dado adquirido que Amine Saad terá um dos papéis principais no desenrolar da actual situação. Ao Procurador Geral resta agora o desafio de conduzir os processos de investigação relativos às mortes e detenções de altas figuras do Estado com neutralidade e imparcialidade, resistindo, não só, às suas ambições pessoais, mas também às pressões dos seus amigos de sempre e dos actuais ocupantes do poder real na Guiné-Bissau.
Rodrigo Nunes
(c) PNN Portuguese News Network
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