Bissau – A capital guineense recebeu ontem, 05 de Maio, a visita dos Chefes de Estado-Maior da CEDEAO. Esta visita ocorre quando está ainda em cima da mesa a nomeação do novo Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas guineense.
António Indjai e Bubo Na Tchuto continuam a recolher apoios com vista à efectivação das suas nomeações no interior da estrutura militar.
A visita da delegação da CEDEAO surge numa altura em que o processo contra Zamora Induta, detido na manhã de 01 de Abril, está prestes a ser finalizado pela Procuradoria Geral da República. Apesar da forte pressão internacional com vista à libertação do ainda CEMGFA, e das divergências internas, a Comissão de Audição Militar parece ir mesmo avançar para uma acusação formal a Zamora Induta, facto que permitirá avançar legalmente para a nomeação do novo homem forte dos militares guineenses.
Na hierarquia das Forças Armadas, António Indjai é quem deveria suceder no posto. No entanto, muitos oficiais militares guineenses começam a dar sinais de preferir uma solução de mudança. O cansaço acumulado por anos de lideranças legitimadas por laços étnicos ou políticos, leva alguns a reclamar silenciosamente pela reforma.
No Estado-Maior guineense é comentado o périplo efectuado pelos quartéis do país por Indjai logo após as movimentações de 01 de Abril. A sua estratégia de «campanha eleitoral» visa recolher os apoios necessários para reclamar a herança do General Balanta Tagme Na Waie, assassinado em Março de 2009, na mesma noite que viu morrer o então Presidente da República «Nino» Vieira.
No entanto, se António Indjai parece manter o controlo absoluto de Mansoa, Bubo Na Tchuto permanece a operar na sombra para também ele ser reintegrado no topo da estrutura militar guineense. Bubo, fruto do seu estatuto de guerrilheiro histórico da luta de libertação guineense e da sua passagem pela liderança da Marinha Guineense, colhe ainda o apoio de uma larga maioria de unidades militares no país. Também Bubo se considera herdeiro natural de Tagmé Na Waie, posição que entende lhe ter sido subtraída por uma alegada perseguição política. Apesar de desde a sua libertação da sede da ONU em Bissau a 1 de Abril manter uma completa liberdade para deslocações pelo país, o Contra-Almirante tem vindo nos últimos dias a optar por uma postura de discrição nos seus contactos.
Na Presidência guineense, são tidos como cada vez mais sérios os rumores que apontam para que Bubo Na Tchuto esteja a movimentar armamento para zonas sob controlo dos seus fiéis. Estes rumores, em conjunto com as notícias que indicam a re-constituição de unidades militares privadas estão a lançar o alarme entre a elite política guineense já de si em alerta face à atitude conivente que as autoridade militares encaram as movimentações por toda a Guiné do ex- Chefe de Estado Maior da Armada.
Apesar do receio crescente em Bissau, o alegado controlo efectivo dos quartéis por parte de António Indjai estará a servir como «tampão» às potenciais acções de Bubo Na Tchuto.
No entanto, a decisão quanto à nomeação do novo CEMGFA poderá constituir-se como um factor determinante para o regresso ou não da estabilidade à Guiné-Bissau. No seu círculo próximo, Bubo Na Tchuto fez saber que não aceitará outro desfecho que não a reintegração no seu lugar natural nas Forças Armadas e dificilmente aceitará ficar abaixo de António Indjai. Perante o chumbo, na passada quarta-feira, na Assembleia Nacional Popular da proposta de criação do posto de Vice-CEMGFA (figura inexistente na moldura legal guineense) Bubo quererá demonstrar «quem é que manda».
Para além do crescente poder das armas, Bubo afirmou no seu círculo restrito ter na sua posse cópia de documentação que compromete pessoalmente Indjai no narcotráfico e em crimes contra o Estado. Um «Ás de trunfo» que poderá levar a Guiné-Bissau a entrar numa nova espiral de instabilidade.
Rodrigo Nunes
(c) PNN Portuguese News Network
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