quarta-feira, 7 de julho de 2010

Filho do general Indjai agrediu violentamente polícias de trânsito

Um dos filhos do novo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau esteve ontem na origem de violentos confrontos entre militares e a polícia de trânsito.

Na avenida principal da capital, junto à Praça de Bandim, segundo conta a Agence de Presse Africaine (APA), do vizinho Senegal, o filho do general António Indjai, que se deslocava de carro, reagiu muito mal quando foi mandado parar por uma agente da polícia de trânsito.

Não tendo admitido que fosse necessário esperar pela passagem de outras viaturas, que tinham prioridade, o cidadão em causa saiu do automóvel com os militares que lhe serviam de guarda-costas e agrediu violentamente a sinaleira.

Tendo-se verificado entretanto que nem sequer tinha carta de condução, chamou em seu socorro outros militares, que agrediram cinco polícias com cintos e com as coronhas de espingardas de assalto Kalashnikov, também conhecidas por AK-47.

Na sequência de todo este episódio de grande aparato, os militares ao serviço daquele familiar do general Indjai levaram os polícias, entre os quais quatro mulheres, para o Estado-Maior General, onde os voltaram a espancar, pelo que acabaram por ir parar ao Hospital Simão Mendes, “desfigurados e ensanguentados”.

Uma das mulheres polícias, Blony, levou em pleno crânio um golpe de Kalashnikov, conta a APA. E a Assembleia Nacional Popular tomou conta da ocorrência, tendo agendado para hoje uma sessão especial, para a qual convocou os ministros da Defesa, Aristides Ocante da Silva, e do Interior, Satú Camará Pinto, a fim de que se pronunciem sobre o que aconteceu.

População revoltada

O sentimento geral da população de Bissau é de revolta perante estas arbitrariedades; e em Cabo Verde o Presidente Pedro Pires condenou uma vez mais a interferência dos militares nos assuntos guineenses.

Pires, que participou como combatente do PAIGC na luta pela independência da Guiné-Bissau, afirmou que o que ali se está a passar se encontra na agenda da União Africana e da Organização das Nações Unidas, porque é “uma situação complexa, que pede uma abordagem realista e inteligente, para se poder encontrar os caminhos para a sua solução”.

Em Lisboa, segundo a Lusa, deputados do Partido Socialista e do CDS-PP criticaram a nomeação de Indjai para a chefia do Estado-Maior, tendo em conta que ele dirigiu no dia 1 de Abril uma sublevação militar, durante a qual chegou a ameaçar de morte o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, presidente do PAIGC, a força política maioritária.

Já o Partido Comunista Português considerou que, “independentemente das preocupações que possa suscitar” a nomeação daquele controverso general, isso não deve servir de pretexto “para novas manobras de pressão e ingerência dos Estados Unidos e da União Europeia” nos assuntos da Guiné-Bissau, um dos países mais pobres do mundo.

Recentemente, Washington cortou toda a ajuda militar a Bissau, por esta se recusar a afastar os militares tidos como envolvidos em redes de traficantes de cocaína, como seria o caso de Indjai e do chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general Ibraima Papa Camara.

Nos últimos quatro anos, a Guiné-Bissau tem sido normalmente mencionada como um trampolim importante no tráfico de drogas que da América Latina seguem para a Europa e o Médio Oriente.

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