Por António Aly Silva Blog Ditadura do Consenso
Chegamos ao ponto de o próprio representante do secretário-geral da ONU na Guiné-Bissau, José Ramos Horta, fazer o jogo dos maus da fita. «Ramos Horta está a tentar encobrir o incidente de Buba e não quer fazer ondas», garante uma fonte da UNIOGBIS ao Ditadura do Consenso, que adiantou que houve uma reunião logo depois dos acontecimentos e que o Ramos Horta «tentou desvalorizar o caso, ao contrário da maior parte do staff da UNIOGBIS, que acharam que foi uma situação muito grave que podia ter outras consequências.»
TEATRO NA AMURA
Desde que chegou a Bissau mandatado por Ban Ki-Moon, que José Ramos Horta está no meio do fogo-cruzado entre políticos e militares, e não sabe para onde se virar ou escapar. A fonte recorda para o ditadura do consenso a visita que o Ramos Horta fez à Amura pouco depois de chegar a Bissau: «Antes da visita alertámo-lo que aquilo ia ser assim - que o António Indjai ia fazer um grande filme. Depois da visita dissemos, cuidado que a realidade não é aquela, eles estão assim porque querem, porque derreteram o dinheiro que a comunidade internacional tem enviado para projectos e reconstrução de edifícios. E mesmo assim fez aquelas declarações patéticas, praticamente culpando a Comunidade Internacional pelos erros dos próprios militares guineenses.» E desabafa, impotente: «Uma injustiça para o povo, esse discurso».
No que diz respeito à CPLP, diz a fonte que a organização «anda de candeia às avessas com Ramos Horta», garantindo que «se a CPLP soubesse o que sabe hoje, nunca tinham apoiado a nomeação do Nobel da Paz para a Guiné-Bissau.» Com Bissau a receber, na próxima semana, o presidente da Comissão das Nações Unidas para a Consolidação da Paz, o Embaixador António Patriota, e a Assistente do Secretário-geral (ASG), Judy Cheng-Hopkins – ainda por cima como convidados do Representante Especial do Secretário-geral da ONU na Guiné-Bissau, é claro que uma notícias destas vir a público...mas acabou por vir pela mão do DC, e é isso que interessa.
A CASA DO MENINO ‘TONY’
Uma semana depois da visita ao Estado-Maior General das Forças Armadas, o CEMGFA António Indjai convida o Ramos Horta a visitá-lo no seu ‘estado’ – Mansoa, 60 kilómetros a Norte da irrequieta capital, Bissau. Uma visita ainda fresca na memória da minha fonte. «Nesse sábado, fomos à casa do Indjai, em Jugudul», recorda, e remata de seguida «foi uma palhaçada autêntica! Ele (o Indjai) mostrou-lhe (ao Ramos Horta) apenas o que lhe quis mostrar - a zona junto da casa e uns 30 metros de terreno, mostrou-lhe um depósito de água, uma mangueira e nada mais. Quando depois viemos embora, o Ramos Horta estava todo contente, que afinal o Indjai era boa pessoa, um coitadinho...», diz indignado.
O MAU DA FITA
O problema, agora, é saber se o país tem condições para organizar as eleições gerais marcadas para março próximo. O meu interlocutor corta-me a palavra e dispara: «Se não houver eleições em março (é a hipótese mais provável) o Ramos Horta ficará mal na fotografia. Muito desfocado mesmo», vai avisando.
Mas como é o Ramos Horta em Bissau, a trabalhar? Peço à minha fonte, que o conhece bem, que aponte um dos piores defeitos do timorense e Nobel da Paz: «Ramos Horta não dá ouvidos a ninguém! Acho que de uma forma geral, os guineenses ficaram desiludidos com ele. Não me desiludiu muito, eu já não acreditava nele e nem criei muitas expectativas sobre a sua vinda.»
Ramos Horta, no entender da nossa fonte, «veio com uma agenda própria, pensando que vinha para Bissau fazer um brilharete.» Mais grave ainda são as insinuações que se seguem: «Pensou que estava a lidar com os combatentes do tempo da guerra, só que esses, ou já não estão cá, ou os poucos que estão já não são o que eram. Eu próprio dei-lhe alguns briefings sobre a situação, sobre os militares, sobre o Indjai, mas ele achava sempre que nós estávamos a inventar.» AAS
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