domingo, 5 de janeiro de 2014

OPINIÃO : Voltar as costas à Guiné-Bissau não resolverá a crise .

RENATO EPIFÂNIO

A crise política que a Guiné-Bissau atravessa exige um muito maior envolvimento de toda a Comunidade Lusófona

A consciência dos povos também se formata por agendas mediáticas e, não obstante a pulverização dos meios (sobretudo na “internet”), a televisão continua a ser o meio por excelência. Por isso, continuo a defender um Serviço Público de Televisão, que saiba difundir a visão que mais tenha a ver com os interesses estratégicos de Portugal.

Hoje, isso está ainda muito longe de acontecer. Apenas um exemplo: a atenção que a RTP (Rádio Televisão Portuguesa) dedica, em geral, ao espaço lusófono. Em comparação com o acompanhamento que dedica a outros espaços geopolíticos, a única conclusão possível é que para a RTP o espaço lusófono continua a ser algo de residual.

Dos outros canais nem vale a pena falar, pois ainda conseguem ser piores. Quando há alguma notícia é, em regra, pelas piores razões, como se tudo o que acontece no espaço lusófono fosse, por definição, mau. As boas notícias (quase) nunca aparecem nos grandes noticiários - antes são remetidas para guetos televisivos. Tudo o mais parece servir apenas para perpetuar os lugares-comuns de sempre: “o Brasil é o país do samba e do futebol”, a “África é um continente perdido”, etc.

É bem verdade que o mau exemplo vem de cima. Alguém me sabe explicar, por exemplo, porque todos os nossos líderes políticos aparecem sempre com as bandeiras de Portugal e da União Europeia (para além da bandeira partidária) e nunca também com a bandeira da CPLP: Comunidade dos Países de Língua Portuguesa? Bastaria esse pequeno gesto simbólico para que a Lusofonia tivesse um peso maior no nosso espaço mediático.

No muito a mudar em 2014, que algo mude também nesta área. Em prol disso, transcrevo aqui a Declaração que o MIL emitiu sobre a mais recente incidente com a Guiné-Bissau:

“Repudiando, com toda a veemência, o incidente que levou a que um avião da TAP: Transportes Aéreos Portugueses tivesse sido obrigado a transportar, de forma ilegal, cerca de setenta cidadãos sírios, o MIL: Movimento Internacional Lusófono não pode aceitar a manutenção da suspensão de voos da TAP para a Guiné-Bissau.

Como o MIL tem reiteradamente defendido, a crise política que a Guiné-Bissau atravessa exige um muito maior envolvimento de toda a Comunidade Lusófona. Voltar as costas à Guiné-Bissau não resolverá a crise, antes a agravará ainda mais.

Nessa medida, o MIL reclama o restabelecimento, tão imediato quanto possível, dos voos da TAP para a Guiné-Bissau, com expressas garantias de segurança dadas pelas autoridades guineenses. Essa ligação aérea é vital não apenas para a preservação da relação entre Portugal e Guiné-Bissau, como, por extensão, da relação entre a Guiné-Bissau e toda a Comunidade Lusófona.

Aproveitamos, a este respeito, a oportunidade para relançar uma das propostas do MIL: agora que se fala de novo na privatização da TAP, é tempo de se criar uma companhia aérea à escala lusófona, que tenha como prioridade a ligação entre as principais cidades de todo os países e regiões de língua portuguesa, sem esquecer as várias diásporas lusófonas.”

Presidente do MIL: Movimento Internacional Lusófono

www.movimentolusofono.org

Fonte : Jornal Publico

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