Os problemas relacionados com o tráfico de drogas que enfrenta atualmente a África Ocidental, incluindo na Guiné-Bissau, requerem soluções alternativas às aplicadas na América Latina. Segundo um estudo recente da Open Society e da Universidade de Swansea, os Estados Unidos apoiam-se em dados que sabem ser pouco fiáveis para justificar intervenções repressivas motivadas pelos seus próprios interesses nacionais de não ver o tráfico escoar para o país.
O estudo assinala que existem dados que comprovam um aumento do tráfico de drogas, organizado por grupos criminosos, na África Ocidental, em particular em Benim, Gana, Nigéria e Togo, mas também na Guiné- Bissau. No entanto, os autores consideram que as Nações Unidas e os Estados Unidos se baseiam em informações insuficientes para construir narrativas que lhes são mais favoráveis de forma a propagar a ideia de que “a África Ocidental está ‘sob ataque’ de traficantes e a desenvolver uma população ‘crescente’ de toxicodependentes.”
São as próprias autoridades que assumem a falibilidade dos dados disponíveis, por exemplo no World Drug Report 2013: “Embora seja claro que o continente africano se torna cada vez mais importante e vulnerável em termos da proliferação de rotas de tráfico, a disponibilidade de dados é muito limitada.” Sendo assim, que motivação haverá por detrás da propagação de uma narrativa da África Ocidental devastada pelo tráfico e consumo de drogas?
“Existem provas convincentes de que o tráfico de droga na África Ocidental está a causar problemas consideráveis, incluindo corrupção e envolvimento de pessoas vulnerávels em mercados de droga,” explica o relatório. “A nossa preocupação é que dados questionáveis e uma narrativa selectiva estão a ser usados para uma nova campanha na ‘guerra contra as drogas’, que pode bem ser tão ineficiente como as anteriores o foram.” A repressão militarizada do tráfico na América Central e do Sul, por exemplo, continua sem mostrar sinais claros de ter tido um impacto positivo – em muitas situações, esta repressão parece ter exacerbado a violência, e, mais do que diminuído o tráfico, parece antes tê-lo empurrado para outras zonas.
Para a antropóloga Alex Klein, a criação desta concepção de uma ‘África sob ataque’ enquadra-se no interesse particular dos Estados Unidos e de outros actores importantes na arena global, cujas preocupações se focam no tráfico de drogas que partiria desta região para os seus próprios países. No entanto, para Klein, não existem provas concretas de que a rota de tráfico da África Ocidental seja sequer tão utilizada quanto se afirma.
Klein critica ainda a entrada dos parceiros internacionais na África Ocidental para defenderem os seus próprios interesses nacionais – especialmente o receio do escoar do tráfico de droga por esta rota para a Europa e os EUA – , e não para trabalhar concertadamente para atingir os objectivos relevantes para os africanos.
“A necessidade de aprender com erros passados é crucial para qualquer região do mundo onde possam emergir novas rotas de tráfico, mas é especialmente importante para uma região que depende muito da ajuda externa,” sublinha o relatório, em conclusão. Os investigadores defendem que se as mesmas estratégias usadas na América Central forem reutilizadas para esta região sem nenhuma investigação aprofundada sobre o seu verdadeiro impacto e eficácia, a África Ocidental corre o risco de se tornar num “exemplo do que não fazer”.
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