Lusa-A infiltração do narcotráfico no aparelho de Estado da Guiné-Bissau é acompanhada por “sérias suspeitas”, afirma Carmelita Pires, até novembro conselheira da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental para o combate à droga.
Quando quer aceder ao território de um país, ainda que para fins de armazenamento ou trânsito, a “máfia” do tráfico de droga atua através do “acesso a determinadas pessoas, que lhe permitam o direito de passagem”, observa a especialista, que foi, durante três anos, conselheira especial do presidente da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) para o combate à droga e ao crime organizado.
“Não estou a ver os soldados rasos a concederem esse direito de passagem”, confessa, realçando que, na Guiné-Bissau e noutros Estados igualmente frágeis, o narcotráfico “infiltra-se ao mais alto nível”.
"Passa-se tudo em Bissau e nós sabemos”, realça a advogada de formação e ex-ministra da Justiça da Guiné-Bissau.
Recordando que, enquanto ministra, defendeu a investigação, a acusação e o julgamento desses casos – na sequência do que chegou a receber ameaças de morte –, Carmelita Pires reconhece que, a esse nível, “as coisas não têm corrido bem”.
“Um dos nossos principais problemas tem a ver com a questão da impunidade e aí não posso dizer que tenhamos tido resultados”, vinca.
Simultaneamente, admite, o sucesso do combate internacional ao narcotráfico na Guiné-Bissau e na região da África Ocidental tem sido impedido por “condicionalismos, sobretudo de cariz financeiro”.
O plano de combate da CEDEAO “é extremamente ambicioso” e pressupõe ações concretas, entre as quais Carmelita Pires destaca a partilha de informação e operações conjuntas entre as polícias da região. “Este trabalho já começou, mas ainda não está totalmente em prática. Fizeram-se só duas ou três operações”, diz.
A criação de um tribunal específico, que contorne as “debilidades” dos sistemas judiciais da região, e a harmonização da legislação são outras medidas constantes no plano, acrescenta.
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