Lusa21 Jan, 2013,
O representante das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, admitiu hoje que será difícil mobilizar a comunidade internacional para apoiar o processo eleitoral no país e mostrou-se favorável a um adiamento das eleições.
"Não é fácil (...) devido à crise financeira e económica que prevalece no mundo, em particular nos países ricos amigos e apoiantes tradicionais da Guiné-Bissau. [Será] Difícil devido aos constantes recuos no processo na Guiné-Bissau, alguma desilusão, desencanto", disse o timorense José Ramos-Horta.
O representante das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, que falava aos jornalistas em Lisboa, após uma reunião com o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Isaac Murade Murargy, adiantou contudo ser possível inverter este cenário.
"Se conseguirmos dar passos positivos nas próximas semanas e meses estou convencido que países doadores como Portugal, União Europeia e União Africana vão retomar o apoio à Guiné-Bissau (...) É possível mobilizar recursos desde que haja um quadro político satisfatório", prosseguiu.
A Guiné-Bissau está a ser gerida por um Governo de transição desde o golpe militar que a 12 de abril afastou do poder o Presidente e primeiro-ministro eleitos.
O acordo de transição, assinado em maio, previa a realização de eleições no prazo máximo de um ano, mas nos últimos tempos avolumam-se as vozes dos que não acreditam em tal possibilidade.
"Tudo indica que não há meios para que as eleições se realizem no prazo previamente anunciado. Para que as eleições decorram com total transparência e normalidade há muitos passos a serem realizados no terreno além dos aspetos técnicos e administrativos", disse Ramos-Horta.
Ressalvando que são os guineenses que têm que decidir o calendário eleitoral, o ex-Presidente timorense considerou que "as eleições não são um fim em si".
"Além do ato tem que haver todo um processo de diálogo para que o resultado das eleições venha a ser aceite por todos (...) e isso vai levar mais algum tempo", disse.
Adiantou que partilha do ponto de vista dos que defendem o adiamento das eleições "para permitir criar condições ótimas" para a sua realização.
Ramos-Horta, que deverá instalar-se em Bissau a partir da segunda semana de fevereiro, adiantou aos jornalistas que a sua primeira tarefa passa por "ouvir exaustivamente todas as partes".
Na agenda tem também previstas deslocações a vários países da região, nomeadamente Senegal, Guiné-Conacri, Gâmbia, Cabo Verde e Moçambique, que ocupa atualmente a presidência rotativa da CPLP.
Nos próximos dias, Ramos-Horta estará em Adis Abeba, Etiópia, com o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, para analisar com a União Africana a situação da Guiné-Bissau.
O ex-Presidente timorense disse ainda que teve já acesso aos resultados preliminares da missão internacional que em dezembro se deslocou à Guiné-Bissau, adiantando que baseará muito do seu trabalho nas conclusões desse relatório.
"A comunidade internacional é muito perentória, clara [na defesa] do Estado de direito e da ordem constitucional, mas também tem o sentido da realidade e de que é preciso dar passos com prudência para ajudar os guineenses a sair desta crise", disse.
Ramos-Horta acredita que os resultados da visita da missão internacional estão "a encorajar o diálogo e a levar a um processo de transição mais inclusivo", considerando que "há sinais positivos" no terreno.
O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) assinou na semana passada o Pacto de Transição, instrumento que regula o período de transição no país e que o maior partido do país se recusava a assinar.
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