terça-feira, 22 de janeiro de 2013

ONU quer controle do Brasil sobre entrada de droga em Guiné-Bissau

"Brasileiros, colombianos e venezuelanos, façam mais para evitar a saída da droga da América do Sul." O pedido é do ex-presidente do Timor-Leste e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1996 José Ramos-Horta, representante nomeado das Nações Unidas em Guiné-Bissau. O país africano é rota de passagem de cocaína para a Europa.

"Os nossos irmãos africanos, sobretudo da África Ocidental, sempre aparecem mal na fita quando, na realidade, nenhum país africano produz droga. Isto é produzido na América Latina. Em nenhum país africano há grande consumo de droga. Consumidores há na América do Norte e na Europa", ponderou.

Para José Ramos-Horta, o problema de drogas na Guiné-Bissau seria resolvido se "os nossos irmãos da América Latina fizessem maiores esforços para controlar a produção da droga, e os nossos irmãos europeus fossem mais eficazes em controlar suas fronteiras", disse nesta segunda-feira ao sair de reunião na sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa.

Na última década, Guiné-Bissau passou a ser utilizada como rota de narcotráfico para a Europa, crime que, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), tem sido mais rentável que os Estados Unidos, em especial no caso da droga produzida na Colômbia e na Venezuela.

O relatório do Unodc de 2012 aponta para o trânsito de drogas entre países falantes da língua portuguesa. "Uma parte da cocaína enviada para o Brasil é contrabandeada para a África (sobretudo o oeste e o sul da África), tendo a Europa como destino final. Por causa de afinidades linguísticas com o Brasil e alguns países africanos, Portugal emergiu como área significativa para o trânsito de cocaína", descreve o documento.

O tráfico de drogas se aproveita da extrema pobreza de Guiné-Bissau, herdada do período de colonização portuguesa, iniciada antes do descobrimento do Brasil. Há o problema da fragilidade das instituições de Estado de direito, marcadas por movimentos recorrentes de golpes de Estado - em quase 40 anos, nenhum presidente eleito chegou ao fim do mandato. Em abril do ano passado, militares atacaram a residência do então primeiro-ministro e principal candidato às eleições presidenciais de Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior.

Os militares têm a hegemonia política do país desde a independência. Ramos-Horta promete procurá-los e também outros setores para dialogar. "Serei muito ativo no diálogo, no ouvir as pessoas. Serei ativo sem ser intervencionista", disse, seguindo a orientação da ONU e afinado com a CPLP, que não reconhece o governo de transição instalado no país desde abril do ano passado. 

Ramos-Horta muda-se na segunda semana de fevereiro para Bissau, capital de Guiné-Bissau. Uma das metas das Nações Unidas é que o país se pacifique internamente e promova novas eleições. "As eleições não são um fim em si, mas um instrumento de escuta da sociedade. Para além do ato eleitoral, tem que haver um processo de diálogo e de organização das eleições para que o resultado venha a ser aceito sem qualquer questionamento", disse, sem prever quando os guineenses voltarão a ter eleições.

Em recente reunião no Uruguai dos 23 países que integram a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (Zopacas), o Brasil se posicionou em favor do diálogo interno na Guiné-Bissau para dirimir conflitos. O Brasil tem grande interesse na normalização da vida política em Guiné-Bissau por causa da participação do país na CPLP, importante acesso do Brasil à África.

Fonte: Agência Brasil

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