O presidente da Associação de Jovens de Fulacunda, no sul da Guiné-Bissau, denunciou hoje o "abate indiscriminado" de árvores de grande porte nas matas da zona por madeireiros chineses que dizem ter autorização do governo central.
Contactado por telefone pela agência Lusa, Lamine Mané, presidente da Ajaudes (Associação de Jovens, Amigos Unidos para o Desenvolvimento do Setor de Fulacunda), afirmou que "grupos de chineses estão a derrubar árvores" numa mata de cerca de 15 quilómetros quadrados.
"Cortam as árvores de forma indiscriminada, sobretudo o pau de carvão, mas também arrancam as raízes das árvores. É um desastre o que os chineses estão a fazer nesta zona. É um crime", disse, Mané, emocionado e irritado.
"É mesmo para chorar. Dói o que se vê por aqui. Os chineses estão a dar cabo da nossa floresta. O problema é que até têm documentos passados pelo governo central e contra isso não se pode fazer nada", sublinhou o jovem.
O presidente da Ajaudes diz que o representante do governo no setor, o administrador, até está do lado dos jovens que estão contra os madeireiros chineses, mas diz que não pode fazer nada para parar o abate das árvores "porque a ordem vem de Bissau".
"A floresta, que queríamos que fosse considerada floresta comunitária e protegida, da zona de Mbasso já está completamente destruída. Há dois anos que os chineses estão a cortar árvores naquela floresta, hoje aqui está com uma clareira enorme", notou Lamine Mané.
No passado mês de dezembro os jovens de Fulacunda passaram das ameaças aos atos, parando, à força, os madeireiros, mas estes, dias depois voltaram a cortar árvores mediante uma nova autorização passada pelo governo central, contou o jovem Mané.
"Qualquer dia, se isto continuar assim, com os chineses a cortarem as nossas árvores, com o consentimento do governo, pode haver aqui um conflito perigoso com a população", avisou o responsável da associação dos jovens de Fulacunda.
Lamine Mané lembra que a floresta de Mbasso fica situada numa zona considerada área protegida mas mesmo assim, diz, são as próprias autoridades que concedem autorização para ser desmatada.
"Os chineses além de cortarem as arvores e arrancarem as raízes, não estão a reflorestar como manda a lei, cortam e metem as troncos nos contentores e vão-se embora, sem dar nenhuma contrapartida para o nosso setor e ainda por cima recusam-se a empregar os jovens", afirmou Lamine Mané.
Os jovens prometem viajar para Bissau para falar com o Presidente interino do país, Serifo Nhamadjo para tentar parar o abate das árvores de Mbasso.
A Lusa tentou contactar a empresa chinesa responsável pelo corte de árvores mas tal não foi possível.
O responsável de outra empresa madeireira chinesa que opera na região, que pediu para não ser citado, disse à Lusa que a sua empresa não teve até agora problemas com a população local mas que soube do caso envolvendo jovens de Fulacunda.
"Há bom relacionamento com a comunidade, estamos a dar apoio social nas escolas", disse, acrescentando que as empresas madeireiras operam legalmente e que cada carga é inspecionada pelas autoridades competentes.
"As comunidades entendem que a exploração da madeira na sua região tem de dar contrapartidas, reclamam que são eles quem tem de proteger a floresta. É preciso negociar e dar contrapartidas, embora isso não esteja na lei, para não gerar problemas", disse.
Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário