Portugal defendeu nas Nações Unidas o apoio dos parceiros internacionais na capacitação técnica e assistência financeira à Guiné-Bissau, aproveitando o "virar de página" que representaram as eleições recentes naquele país lusófono.
Na sua intervenção na 69.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, que decorre em Nova Iorque, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, saudou "a reposição da ordem constitucional, a realização de eleições livres e a tomada de posse de instituições democráticas legítimas, dois anos após o golpe de Estado de 2012, são uma nota de esperança".
Para o governante, está em causa um "efetivo 'virar de página' que deve ser aproveitado e apoiado".
"Os parceiros internacionais podem e devem desempenhar um papel determinante em áreas como a capacitação técnica e a assistência financeira, apoiando as prioridades indicadas pela Guiné-Bissau", defendeu o chefe da diplomacia portuguesa.
Portugal sugeriu ainda que "seria adequada" uma força de estabilização baseada na ECOMIB (missão militar internacional na Guiné-Bissau), "possivelmente alargada a novos parceiros africanos e mandatada pelas Nações Unidas".
No seu discurso, Rui Machete abordou um conjunto alargado de outros temas, nomeadamente o terrorismo.
"Os grupos terroristas, extremistas e radicais merecem o nosso mais veemente repúdio e condenação" e constituem uma ameaça não só para os Estados e para as populações dos territórios onde operam, mas também representam "para a paz, para a segurança e para a estabilidade regional e global", considerou, pedindo "respostas concertadas e firmes" da comunidade internacional.
Para Machete, "o autodesignado 'ISIS' [Estado Islâmico do Iraque e da Síria] constitui, na atualidade, o exemplo sinistro" de uma ação "criminosa e bárbara" e "deve ser combatido e neutralizado".
Ainda sobre o Médio Oriente, o ministro lamentou que tenham sido frustradas as expectativas de resolução do conflito israelo-palestiniano.
"Não haverá paz duradoura, nem estabilidade no Médio-Oriente, sem a resolução da questão da Palestina. Reitero o apoio do meu país a uma solução que, com base nas resoluções das Nações Unidas, consagre um Estado Palestiniano soberano, independente e viável, vivendo lado a lado com o Estado de Israel, cujas legítimas aspirações de segurança têm de ser garantidas", declarou.
Sobre outros cenários de instabilidade, Rui Machete pediu a "todos os atores líbios empenho num diálogo nacional genuíno e frutuoso", enquanto apelou ao cumprimento integral do cessar-fogo na Ucrânia e incentivou a procura de uma "solução política que seja duradoura, num quadro que respeite a soberania, a integridade territorial, a unidade e a democracia" daquele país.
Quanto à ONU, o chefe da diplomacia portuguesa lamentou que a reforma do Conselho de Segurança continue por realizar, insistindo na necessidade de garantir "uma representatividade acrescida do mundo" atual - Portugal tem defendido a participação do Brasil e da Índia neste órgão.
Recordando que o português é falado por cerca de 250 milhões de pessoas em todo o mundo, o governante reiterou a ambição de transformar o idioma numa língua oficial das Nações Unidas.
Na definição da nova agenda de desenvolvimento, pós-2015, é necessária uma "nova 'parceria mundial'", que defenda os direitos humanos e combata as desigualdades. Os conceitos-chave são "abordagem universal e responsabilidade", mantendo-se uma sensibilidade quanto às especificidades dos países menos avançados e mais vulneráveis, sustentou.
Rui Machete identificou como "ameaças de primeira grandeza" problemas como as alterações climáticas, os tráficos ilícitos, incluindo de armas, droga e de seres humanos, a pirataria e as pandemias.
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