segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Livro sugere que Sékou Touré mandou matar Amílcar Cabral

O investigador e professor universitário cabo-verdiano Daniel Santos lançou sexta-feira, na Cidade da Praia, o livro "Amílcar Cabral - Um Novo Olhar", defendendo que Sékou Touré, antigo presidente da Guiné-Conacri, terá sido o "provável mandante" do assassinato.

Livro sugere que Sékou Touré mandou matar Amílcar Cabral


"O livro veio confirmar que os portugueses nada têm a ver com a morte de Amílcar Cabral. Pelos dados que reúnem, tudo se encaminha para que tenha sido Sékou Touré, antigo presidente da Guiné-Conacri, o mais provável mandante do crime", revelou Daniel dos Santos, indicando que a obra será apresentada pelo antigo ministro das Infraestruturas de Transportes cabo-verdiano, Armindo Ferreira.

Numa entrevista à agência Lusa, o investigador recordou que no dia em que o "pai" das independências da Guiné-Bissau e de Cabo Verde foi assassinado, Sékou Touré preparou um jantar no seu gabinete para os "40 cabecilhas" que estiveram envolvidos na morte de Cabral, a 20 de janeiro de 1973, em Conacri.

"As pessoas já estão identificadas. Só falta oficializar quem mandou matar Amílcar Cabral", prosseguiu o investigador cabo-verdiano, dizendo que a obra, de 600 páginas e sem prefácio, serve para "reavivar a memória" e fazer uma "rotura" de tudo o que já se escreveu sobre Cabral.

A morte de Cabral nunca foi devidamente esclarecida, havendo dúvidas sobre os mandantes do crime que o vitimou, reinando também o silêncio dos antigos companheiros no Partido Africano de Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), cuja sede durante a luta de libertação (1963/74) estava precisamente em Conacri.

Vários livros já deram pistas sobre o contexto que levou à morte de Cabral, como os do jornalista e investigador português José Pedro Castanheira, do historiador guineense Julião Soares Sousa, dos escritores são-tomense Tomás Medeiros e angolano António Tomás, mas todos são inconclusivos sobre um envolvimento de Portugal ou do PAIGC.

Sabe-se apenas que o autor dos disparos que o vitimaram foi Inocêncio Kani, guerrilheiro do PAIGC entretanto falecido, alegadamente a mando de outro alto dirigente do então movimento independentista, Morno Touré, em conluio com Mamadou Ndjai, chefe da guarda de Cabral.

Daniel Santos recordou que o livro lhe ocorreu em 2001, quando começou a pensar em escrever uma dissertação de mestrado, que veio a coincidir com Amílcar Cabral e tinha como título "A Questão Colonial - O Contributo de Amílcar Cabral".

"Quando fui defender a minha dissertação de mestrado, dei conta que havia a necessidade de se fazer um livro como este, porque todo o debate que se centrou durante a arguição da tese foi sobre a vida de Amílcar Cabral. Houve a necessidade de se aprofundar mais", indicou, dizendo, porém, que o livro, escrito há dois anos, tem pouco a ver com a dissertação de mestrado.

Segundo Daniel Santos, a obra é diferente de tudo o que já se escreveu sobre Cabral e, em termos de metodologia, faz uma "rotura completa", uma vez que se afasta do "individualismo metodológico" para se centrar no "pluralismo metodológico", ou seja, cruza várias fontes, deixando o público tirar as suas próprias conclusões.

Para o investigador, que reivindicou ser o primeiro cabo-verdiano a escrever um livro sobre Amílcar Cabral, a obra servirá também para promover um "debate cívico, franco, pedagógico, académico, muito humilde e sem amarras" sobre Cabral, sem perder de vista o contexto em que viveu e se moveu.

"Valeu a pena fazer esta caminhada e apresentar aos cabo-verdianos, partidos políticos, investigadores, jornalistas e professores um livro que não foi feito a pensar em agradar a este ou aquele, mas que seja útil a quem o leia", mostrou.

Para o autor, Amílcar Cabral continua uma "figura marcante e emblemática" na história da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, uma pessoa com "defeitos e virtudes", defendendo ser necessário colocá-lo "no lugar que conquistou por mérito próprio".

O investigador cabo-verdiano diz que tem "muitas coisas na gaveta" e que já escreveu 90% de outro livro sobre a história das ideias políticas do fundador do Partido Africano para a Independência de Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Daniel dos Santos, 57 anos, nasceu na Cidade da Praia, é jornalista - não está em exercício -, politólogo e professor nas universidades Lusófona de Lisboa, Jean Piaget e Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais (ISCJS), as duas últimas em Cabo Verde.

Lusa

Sem comentários:

Enviar um comentário