domingo, 6 de outubro de 2013

Artígo de opinião: Droga e chefias militares na mira

Funcionários do Departamento de Estado americano mantiveram, à margem da 68ª A.G. das Nações Unidas, um breve encontro com o presidente interino guineense Serifo Nhamadjo .

Invariavelmente, com Serifo Nhamadjo a servir-se de «mensageiro» das preocupações de Washington a Bissau, funcionários do Departamento de Estado americano mantiveram, recentemente e à margem da 68ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, um breve encontro com o presidente interino guineense.


Na agenda, o processo de transição em curso na Guiné-Bissau, país onde, na sequência de novas eleições gerais, aparentemente previstas para Novembro próximo, Washington aguarda o retorno à normalidade democrática, com a instituição de um novo «Poder» que possa pôr cobro aos desmandos e à corrupção que tomou conta das estruturas governamentais e das casernas militares.


É que a administração Obama não parece disposta a abrir mão da determinação de levar à justiça americana as chefias militares e governamentais envolvidas com as redes do narcotráfico na Guiné-Bissau. Esta determinação ficou pois patente, de acordo com fontes americanas, no encontro que a secretária de Estado assistente para as questões africanas, Lindda Thomas Greenfield, manteve em Nova Iorque com o presidente interino da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo.


Greenfield quis, através de Nhamadjo, inteirar-se dos preparativos do processo eleitoral em curso no país, que Washington acredita poder vir a resultar, pela via das urnas, na eleição de um novo e legítimo governo.
Em causa está a urgente retoma da cooperação com Bissau, susceptível de resultar na responsabilização judicial da liderança do eixo da cocaína nesse país oeste-africano.


Para já, hipótese que, com o actual poder em Bissau, Washington encara como inexequível, em face da inépcia demonstrada pelo governo de transição bissau-guineense saído do golpe militar de 12 de Abril de 2012, liderado por António Indjai. Fazendo fé nas nossas fontes, a recente promoção de um grupo de oficiais militares, que inclui o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o general António Indjai, e algumas outras figuras implicadas no narcotráfico, particularmente no caso que culminou em Abril deste ano, na detenção do chefe de armada bissau-guineenses, Bubo Natchuto, constitui apenas a peça de um puzzle a denotar um claro desinteresse de Bissau em dar luta a este fenómeno que infesta as instituições governamentais e castrenses do país.

De resto, a emissão de um documento oficial, cuja autoria e atribuída ao «governo bissau-guineense», que dá do aval aos militares para a importação de armamentos, nomeadamente mísseis terra-ar, destinado aos guerrilheiros da FARC na Colômbia (aliás, peça da acusação formal norte-americana que impende sobre Bubo Natchuto e António Indjai), constitui para Washington a prova cabal das facilidades e conexões que as redes do narcotráfico gozam nas esferas do poder em Bissau.


O facto de nenhuma diligência ter sido feito por Bissau para o apuramento das responsabilidades do envolvimento de sectores do governo do primeiro-ministro, Rui Barros, na emissão do documento que avalizava a operação serviu apenas para confirmar as suspeitas norte-americanas. E pois com este fito que os Estados Unidos da América aproveitaram a estada de Serifo Nhamadjo em Nova Iorque para reiterarem a sua intransigência em relação às chefias militares do país envolvidas no eixo da cocaína na Guiné-Bissau.

Recorde-se que, já no ano passado, à margem da anterior Assembleia Geral das Nações Unidas, o Presidente da República de Transição da Guiné-Bissau recebera emissários do Departamento de Estado norte-americano, com a estrita missão de lhe comunicarem a determinação de Washington em estender a operacionalidade das «Drones», naves não tripuladas, ao espaço aéreo bissau-guineense, no combate às rotas da cocaína na África Ocidental, que têm servido de fonte de financiamento aos grupos extremistas islâmicos que operam na região.


Facto curioso é que, já por essa altura, os Estados Unidos da América, através da sua Agência de Combate ao Narcotráfico (DEA), tinham em fase avançada de implementação a operação que culminaria em Abril de 2012 na detenção do então chefe de estado da armada guineense, o contra almirante José Américo Bubo Natchuto, por envolvimento com o narcoterrorismo e na indiciação, pelo mesmo crime, do actual Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas guineenses, o general António Indjai.


Washington estaria igualmente na posse de informações sensíveis sobre a actividade de grupos radicais islâmicos, nomeadamente a Al Qaida do Magreb, e de intermediários do grupo guerrilheiro colombiano, as FARC, na região, particularmente na Guiné-Bissau.
Se dúvidas ainda persistiam quanto ao descrédito do poder instituído em Bissau junto da administração norte-americana, o que foi dito ao presidente da transição durante a sua recente deslocação a Nova Iorque, para participar na Assembleia Geral das Nações Unidas, contribuiu de forma inequívoca para a clarificação da posição de Washington em relação ao caso.


É que, durante a sua estada em Nova Iorque, Serifo Nhamadjo viu-se privado da escolta protocolar dos serviços secretos americanos, instituição que por norma assegura a protecção das altas entidades dos países membros da ONU que se desloquem àquela cidade americana por ocasião da assembleia magna daquela organização internacional.


Apesar do pedido nesse sentido feito pela missão diplomática da Guiné-Bissau junto das Nações Unidas, a resposta de Washington foi um «não» redondo à representação de um governo interino que, por sinal, os Estados Unidos da América não reconhecem.


Por Nelson Herbert
Fonte: Publicado no Semanário Angolense

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