Quatro médicos com apoio de enfermeiros e uma ala improvisada num hospital quase isolado do mundo, no sul da Guiné-Bissau, estão a tentar travar a epidemia de Cólera que já matou 24 pessoas, desde março, no país.
"O que mais nos podia ajudar eram recursos humanos", conta o médico Vasco Sanca à agência Lusa, enquanto observa 13 pessoas internadas com a doença, num pátio coberto do Hospital de Catió.
"Com quatro médicos para um hospital tão grande e com este Centro de Tratamento de Cólera, esta é uma tarefa muito difícil", que obriga Vasco a estar quase em permanência na unidade.
O corpo dá sinais de fadiga: "com certeza, sinto-me cansado, mas esta é a nossa dedicação: jurámos fazer isto, salvar as vidas dos que mais precisam".
Largas lonas azuis da UNICEF formam as paredes que os abrigam das chuvas que alternam com sol tórrido, num sítio pequeno para tantas camas e sem conforto: o objetivo é garantir o essencial, o tratamento e reidratação dos doentes, nalguns casos com soro.
A maioria dos 379 casos de Cólera registados de março para cá surgiram na região de Tombali e o hospital da capital regional é a última esperança para aqueles que conseguem lá chegar numa zona onde só há caminhos em terra batida e canoas para atravessar canais.
A época das chuvas, de maio a outubro, dificulta os acessos e facilita a transmissão da bactéria, que se aloja no intestino humano, sobretudo através do consumo de água contaminada.
Uma realidade que o ministro da Saúde do governo de transição, Agostinho Cá, já conhece da experiência de 10 anos de serviço no Hospital de Catió e da luta contra outras epidemias de Cólera.
Sem maior apoio financeiro internacional "vai ser muito difícil ajudar esta população" porque "o orçamento geral do estado serve para pagar salários. Infelizmente não temos orçamento para o investimento e é aí que está o problema", reconhece.
Segundo o responsável, essa ajuda financeira deve ser canalizada para a prevenção da doença, com construção de sanitários públicos e furos, de modo a que as aldeias deixem de beber água contaminada pelos dejetos humanos.
Agostinho Cá é por isso crítico em relação às sanções impostas à Guiné-Bissau devido ao golpe de estado militar de abril de 2012: "a comunidade internacional deve repensar a sua política, porque as sanções não atingem nunca os responsáveis, atingem sobretudo os mais carenciados".
Aquele responsável diz sentir uma "mágoa" especial em relação à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), dizendo que "devia ser o último a abandonar o país e não o primeiro".
Apesar das dificuldades, Agostinho Cá mostra-se otimista: os números da epidemia parecem estabilizar e o ministro da Saúde prefere eleger já como objetivo a eliminação da doença.
No mesmo tom, Ayigan Kossi, representante da OMS na Guiné-Bissau, acredita que "com o envolvimento do governo e com as ajudas já recebidas, será possível acabar com a Cólera" e a partir daí "aprofundar a prevenção".
Para lá chegar, ambos dedicaram boa parte de uma visita de dois dias a Tombali a ações de sensibilização, em que informaram a população de Catió e das aldeias vizinhas sobre os cuidados de higiene a ter para prevenir a doença.
Para o efeito, existem até equipas de "sensibilizadores" formadas localmente e que difundem a informação porta-a-porta, em complemento com os conselhos transmitidos nas rádios locais, explicou à Lusa o diretor regional de Saúde, Dan N'Gombdé.
"O analfabetismo é também um problema, por isso temos que estar perto da população", acrescenta Batista Té, ministro da Administração do Território do governo de transição, que acompanhou a comitiva na visita à região onde os serviço de saúde contabilizam 111 mil habitantes.
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