Bissau - O Representante Especial do Secretário-Geral da ONU para a Guiné-Bissau, José Ramos-Horta, recorreu à metáfora para responder, quando questionado pelos jornalistas sobre a alegada catalogação de Cabo Verde como um «mau vizinho», pelo Procurador-Geral da República guineense, Abdu Mané.
«Quem tem telhados de vidro não deve procurar problemas com vizinhos»,disse Ramos-Hora no final do encontro que manteve no início da tarde desta quinta-feira, 11 de Abril, na Cidade da Praia, com o Presidente da República de Cabo Verde.
Embora sem especificar o nome da Guiné-Bissau, o Representante respondia assim à pergunta dos jornalistas, que entenderam que a expressão usada esta quarta-feira por Abdu Mané em Bissau, «mau vizinho», se travava de uma referência a Cabo Verde.
Sempre usando metáforas, o Prémio Nobel da Paz considerou não ser uma boa estratégia procurar inimigos nos vizinhos, quando a casa não está em ordem.
O Presidente de Cabo Verde preferiu contornar a situação, dizendo ser uma «inferência» entender que o Procurador-Geral da República guineense se referia ao arquipélago.
Jorge Carlos Fonseca reiterou que «os cabo-verdianos são amigos dos guineenses» e que o arquipélago está engajado em ajudar a Guiné-Bissau a retomar a estabilidade e, particularmente, a realizar eleições.
Aliás, Ramos-Horta deixa Cabo Verde esta quinta-feira, 11 de Abril, com a garantia de que a Praia vai usar a sua influência e competências para contribuir para a realização de eleições na Guiné-Bissau, depois de se ter reunido com o ministro das Relações Exteriores, o Primeiro-ministro e o Presidente da República.
Quanto ao processo eleitoral, o Representante Especial do Secretário-Geral da ONU acredita ser possível a sua realização ainda este ano, ao contrário do que tem dito o Governo de transição.
Posição semelhante tem o Representante Especial da União Africana na Guiné-Bissau, para quem as eleições dependem principalmente da organização interna do país. Ovídio Pequeno foi mais longe e avisou que «esta pode ser a última oportunidade para a Guiné-Bissau».
Entretanto, uma fonte das Nações Unidas na capital guineense disse ser «impossível a realização de eleições por falta de todo o tipo de meios, a começar pelos logísticos».
Aqueles dois diplomatas regressam hoje a Bissau, depois de uma visita de dois dias a Cabo Verde, durante a qual Ramos-Horta se encontrou também com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, António Patriota.
Tomaram o gosto pelo poder e nem querem ouvir falar da realização das eleições.
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