Para ver Video
Trailer
http://maiortv.com.pt/cultura/mutilacao-genital-feminina-no-cinema-006
A mutilação genital está presente no filme “Bobô”, da realizadora portuguesa Inês Oliveira, que hoje estreou no festival IndieLisboa, e que vê a prática não como “uma barbárie”, mas como “um acto civilizacional”.
É a primeira vez que o tema da mutilação genital feminina – que, em Portugal, afecta sobretudo as mulheres de algumas etnias originárias da Guiné-Bissau – é tratado numa ficção nacional.
Inês Oliveira disse à Lusa que decidiu filmar “Bobô” depois de conhecer uma mulher guineense. “A história nasceu de uma forma um pouco espontânea”, explica, reconhecendo que, quando ouviu falar da prática, julgava que “era uma coisa que acontecia muito longe, algures entre tambores”, em África.
“Bobô” – que foi hoje exibido na Culturgest, no âmbito do festival de cinema IndieLisboa – conta a história da relação entre duas mulheres, Sofia, portuguesa, e Mariama, guineense, com diferentes “maneiras de estar no mundo”.
“Sabia muito pouco sobre o assunto e tinha aversão, e ainda hoje tenho, mas não conseguia contextualizar”, conta Inês Oliveira, que optou por tratar o tema “do ponto de vista do simbólico e não analisá-lo tanto do ponto de vista físico”.
A mutilação genital feminina “é muitas vezes” tida “como uma barbárie, quando, na verdade, é um ato civilizacional, ou seja, é fruto de uma necessidade, de uma vontade de capitalizar as jovens raparigas”, destaca. “É acompanhada de um ritual que é tomado como educação. Há uma escolinha onde elas [as meninas] aprendem uma série de lições de vida”, explica.
O objectivo é controlar a sexualidade feminina”, mas esse fim é comum a “todas as civilizações, porque a mulher pode mentir em relação ao pai da criança”, diz.
Quando a conheceu, há dois anos, a actriz guineense Aissato Indjai, que interpreta Mariama, “mal falava português”. Era “muito orgulhosa da sua cultura”, mas também “crítica”, e deu "um valor de autenticidade" ao filme.
A realizadora nunca abordou o assunto da mutilação com Aissato Indjai. “Acho que é um assunto da intimidade das pessoas. Muitas pessoas que foram submetidas à prática não querem ser vistas como vítimas e eu percebo isso perfeitamente. Eu própria, se fosse excisada, não o diria”, frisa.
A comunidade imigrante guineense que foi “conhecendo” ao longo das filmagens é "muito típica, em todas as suas qualidades e defeitos”, resume.
Recordando a comunidade portuguesa em França, realça que “há sempre uma cristalização da essência nacional nas comunidades imigrantes”.
“Como os portugueses em França também comem o seu bacalhau sempre que podem e ouvem a música portuguesa e há ali uma exacerbação do ser português, também os guineenses assim o fazem, porque há uma luta de sobrevivência da sua identidade, étnica e nacional”, compara.
Na comunidade guineense, encontrou pessoas com “opiniões muito distintas” sobre a prática da mutilação genital feminina. “Não consigo generalizar e dizer que maioria das pessoas são contra ou a maioria das pessoas são a favor”, diz.
No filme, Mariama decide fugir com a irmã, Bobô, para evitar que ela seja submetida à mutilação. “Era importante ser ela própria, a Mariama, a insurgir-se, e não ser a Sofia a fazê-lo”, assume.
“Bobô” – que está em competição no IndieLisboa e volta a ser exibido na sexta-feira, às 19:00 – ainda não tem data de estreia nas salas nacionais.
O vídeo que aqui deixamos, nada tem a ver com o filme. Trata-se apenas de alertar a opinião pública para esta prática que, assustadoramente, continua bem patente nos dias de hoje. A peça retrata a vida de Ari Sano, numa reportagem da jornalista Joana Domingues, com imagem de Imagem de Hugo Amaral e edição de Bruno Gascon.
Sem comentários:
Enviar um comentário