quarta-feira, 10 de abril de 2013

“Alegados narcotraficantes detidos nos EUA valiam-se de ligações a Governo da Guiné-Bissau”

Fonte: O MIRANTE

Dois dos alegados narcotraficantes guineenses detidos nos Estados Unidos valiam-se de ligações ao Governo e presidência da Guiné-Bissau e, refere a acusação, mostraram aos agentes infiltrados norte-americanos documentos alegadamente assinados pelo primeiro-ministro.

Segundo a acusação da procuradoria federal do distrito de Manhattan visando Manuel Mamadi Mané, também conhecido por “Quecuto”, e do seu associado Saliu Sisse, também conhecido por “Serifo”, ambos referiram em dezenas de reuniões com dois agentes infiltrados norte-americanos que o primeiro-ministro (Rui Barros) e até o Presidente (Serifo Nhamadjo) dariam cobertura à operação de tráfico de droga e armas.

Os dois acusados foram detidos na semana passada, juntamente com o almirante guineense Bubo Na Tchuto e, segundo disse à Lusa fonte da procuradoria, serão presentes ao juiz hoje, para ouvir a acusação.

Nas reuniões com dois alegados representantes ou associados das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que eram na realidade fontes confidenciais do Departamento Anti-Narcotráfico norte-americano (DEA), “Quecuto” e “Serifo” aceitaram trabalhar com os agentes para distribuir droga através da Guiné-Bissau e fornecer armas, incluindo mísseis terra-ar, para ser usados contra as forças norte-americanas na Colômbia.

Metade das armas importadas pelas Forças Armadas guineenses iria para as FARC, a outra metade ficaria com os militares da Guiné-Bissau.

Depois de uma reunião em Junho de 2012, no Brasil, entre os colaboradores dos dois narcotraficantes, os agentes norte-americanos deslocam-se a Bissau, onde, a 30 de Junho, “Serifo”, “Quecuto” e um dos seus operacionais terão referido a “necessidade de envolver responsáveis do Governo da Guiné-Bissau” na operação.

Os dois alegados narcotraficantes concordaram em apoiar a distribuição de cocaína das FARC, facilitando o envio da cocaína para a Guiné-Bissau num carregamento de uniformes militares, e criando uma empresa de fachada para exportar a droga para os Estados Unidos.

No mesmo dia, os dois alegados narcotraficantes “informaram que os responsáveis do Governo na Guiné-Bissau reteriam uma percentagem da cocaína enviada” e mais tarde “Serifo” informa os agentes que “por este serviço, os responsáveis do Governo guineense esperariam, como comissão, 13 por cento da cocaína enviada” para o país, refere a acusação.

Numa outra reunião na mesma altura, um dos operacionais dos dois alegados narcotraficantes afirma que a operação irá passar por si próprio “e pelo Governo da Guiné-Bissau”.

“É através de mim que conseguem fazer isso… é através do Governo e eu sou o único intermediário”, disse o operacional, citado pela acusação.

Acertados os detalhes da operação, o mesmo operacional referiu que, dois dias depois, iria “discutir o plano com o Presidente da Guiné-Bissau”.

No próprio dia, “Quecuto” informa os agentes norte-americanos da necessidade de um pagamento de 20 mil euros, para atestar da “seriedade” dos alegados membros das FARC e para “começar a negociar sob protecção do Governo guineense”.

Posteriormente, os agentes norte-americanos são apresentados a um elemento das Forças Armadas guineenses, incumbido de facilitar as operações no aeroporto, e, já a 03 de Julho, a outro militar.

A 28 Agosto, “Quecuto” transmitiu aos agentes norte-americanos, por email, um pedido de uniformes militares e outro equipamento, datado de 24 de Agosto, do primeiro-ministro, e em Setembro afirma que ele próprio e outro operacional falariam com o primeiro-ministro e Presidente sobre a encomenda de armas para as FARC.

Em Novembro, “Quecuto” e dois militares guineenses mostram a um dos agentes norte-americanos “documentação do Governo relacionada com a compra de armas”.

Os dois alegados narcotraficantes enfrentam acusações de narcoterrorismo, conspiração para importar cocaína, para disponibilizar apoio material a uma organização terrorista estrangeira e para adquirir e transferir mísseis antiaéreos.

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