Cinco médicos de origem guineense que trabalham em Portugal vão durante esta semana dar mais de 700 consultas em Bissau, foi hoje anunciado numa conferência de imprensa na qual se falou de fraudes nas juntas médicas.
Os médicos, um cardiologista, dois cirurgiões, um pediatra e um especialista em infeciologia, estão na Guiné-Bissau no âmbito de uma iniciativa da Fundação Ricardo Sanhá, criada em 2009 pelo guineense Ricardo Sanhá e com sede em Lisboa, que tem como principal objetivo dar assistência social a cidadãos guineenses no estrangeiro.
Esta é a segunda missão médica da Fundação este ano, disse hoje Ricardo Sanhá à Lusa em Bissau, adiantando que uma terceira missão estará no país em maio.
Cada médico, explicou, assiste uma média de 150 doentes, fazendo também uma triagem daqueles que terão de ser levados para Portugal para intervenções que não se podem fazer em Bissau.
Os médicos disseram, no entanto, que o grupo não se sobrepõe nem substitui a junta médica que faz em Bissau o diagnóstico dos doentes que precisam de tratamento no estrangeiro.
Ainda assim o cardiologista Mário Mendes não poupou críticas à atuação das juntas médicas em Bissau, que "mandam doentes" para Lisboa que na verdade vão de férias, que estão a emigrar ou que querem ir fazer um "check-up".
"Os critérios (da junta médica) têm sido muito díspares. Podem mandar uma pessoa com uma dor de dentes e deixar uma cardiopatia reumática. Esse não vai porque não é da família de ministros", acusou.
"Portugal dá um apoio que as pessoas não valorizam. Fazer um tratamento especializado fica extremamente caro", disse o especialista, acrescentando que o acordo com Portugal contempla o envio de 300 doentes por ano e que agora estão a ser enviados 2000 por ano. E deu um exemplo: uma cirurgia cardíaca custa entre 25 a 30 mil euros.
É por isso que os médicos da "solidariedade móvel" podem vir à Guiné-Bissau, trabalhar e formar equipas no país e fazer a triagem de doentes que se justifique serem levados para tratamento em Portugal, "mesmos sem interferir nos processos da junta médica", disse.
"Sou especialista em cardiologia, o que formo lá posso formar aqui", salientou Mário Mendes, salientando que a iniciativa da Fundação Ricardo Sanhá pode aliviar a pressão sobre o fluxo de doentes enviados para Portugal.
As críticas de Mário Mendes foram ouvidas pelo ministro da Saúde do Governo de transição da Guiné-Bissau, Agostinho Cá, que concordou com tudo e salientou que sempre foi contra o envio de doentes para o estrangeiro.
"Se conseguirmos levar para Portugal os que na realidade estão doentes, então o nosso objetivo está cumprido. O projeto (da Fundação) é o de criar condições para que as pessoas sejam tratadas cá", disse o ministro, falando também dos "problemas sociais" que acarreta uma ida para um país desconhecido e sem apoios.
Mas é preciso também, disse o ministro, tratar da pobreza no país: "há pessoas que são tratadas lá e que depois não voltam, porque não foi a doença que as levou para lá".
Agostinho Cá, também ele médico, disse que a iniciativa da Fundação Ricardo Sanhá foi uma resposta ao apelo do Governo para que médicos da diáspora viessem à Guiné-Bissau para reforçar as capacidades médicas do país.
"É obrigação minha procurar todos os meios para ajudar os pacientes. O melhor é que sejam tratados aqui. Se vêm cá holandeses, franceses e portugueses, porque não os próprios guineenses?", questionou, acrescentando: "garanto que esta missão não vai parar"
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