Praia - O antigo Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, considerou que a prisão do ex-Chefe de Estado-Maior da Armada guineense, Bubo Na Tchuto, pelos serviços secretos norte-americanos, pode ajudar a estabilizar a situação na Guiné-Bissau mas não resolve os problemas daquele país.
Em entrevista à rádio pública cabo-verdiana (RCV), Pedro Pires disse acreditar que, com a prisão de Bubo Na Tchuto, o espectro da impunidade desapareceu e que ninguém está acima da lei.
«Já vêm que não estão impunes e que pode haver uma intervenção de fora no sentido de os neutralizar», acrescentou o antigo Presidente da República, em exercício entre 2001 e 2011, e Primeiro-ministro de Cabo Verde entre 1975 e 1991.
Pedro Pires recebeu o «Prémio Mo Ibrahim», em 2011, e vai ser homenageado esta sexta-feira, 19 de Abril, na abertura do XIII Congresso do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, no poder), do qual foi Presidente e Secretário-Geral.
Na sua perspectiva, a prisão de Bubo Na Tchuto, figura que conheceu durante a luta pela independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, demonstra a fragilidade do Estado guineense.
«Para haver qualquer mudança foi necessário que fossem os americanos, a DEA. Isso demonstra a fraqueza evidente do Estado da Guiné-Bissau», sublinhou Pedro Pires.
O contra-almirante José Américo Bubo Na Tchuto foi detido em águas internacionais, a 2 de Abril, juntamente com quatro oficiais guineenses, por agentes do departamento anti-droga dos EUA (DEA).
Foram todos apresentados a um tribunal de Nova Iorque, que legalizou a prisão sob as acusações de conspiração para fornecimento de armas à guerrilha colombiana FARC, armazenamento cocaína da mesma organização terrorista, venda de armas para uso contra as forças norte-americanas e tentativa de introduzir cocaína no mercado dos EUA.
Esta quinta-feira, 18 de Abril, o Procurador de Manhattan (EUA), Preet Bharara, apresentou uma queixa juntamente com a DEA num tribunal dos EUA, contra o Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, António Indjai, acusando-o de participar numa operação internacional de tráfico de droga e armas.
Bharara e a DEA acusam Indjai de ter usado a sua posição no topo da hierarquia militar guineense para ser intermediário, fazendo da Guiné-Bissau um ponto de passagem de pessoas, que se acredita serem terroristas e narcotraficantes.
Além de Indjai, Preet Bharara e a DEA acusam também o Chefe de Estado-Maior da Força Aérea guineense, Ibraima Papa Camará, pelos mesmos crimes.
Espera-se agora que as autoridades norte-americanas emitam um mandato internacional de captura contra António Indjai que, a 12 de Abril de 2012, liderou um golpe de Estado contra o Governo de Carlos Gomes Júnior, derrubando o antigo Primeiro-ministro e o Presidente Interino, Raimundo Pereira.
Há precisamente um ano, António Indjai foi incluído na lista de indivíduos alvos de sanções do Conselho de Segurança da ONU, por ter protagonizado o referido golpe de Estado, interrompendo a segunda volta de eleições Presidenciais. Em 2010, os EUA já tinham emitido um mandado internacional de captura a Papa Camará.
A acusação agora feita pelo Procurador de Manhattan e pela DEA, que terão pedido a colaboração dos militares da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), estacionados na Guiné-Bissau, criou um ambiente de «medo» nos Quartéis e em certos círculos políticos guineenses, que receiam que os militares da CEDEAO tentem deter as principais chefias do país, entre políticos e militares.
Sabe-se que António Indjai e Papá Camará têm permanecido entre o Estado-Maior das Forças Armadas e o Quartel da Força Aérea, evitando circular na rua com receio de uma possível captura.
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