O general que liderou os militares no golpe de Estado de abril de 2012 falava na segunda-feira durante um encontro dedicado aos serviços de segurança guineenses, no Clube Militar de Bissau, e cujo discurso foi divulgado pela Radiodifusão Nacional.
"Fizemos este golpe para mudar e melhorar a situação do país, mas na realidade está pior", referiu, deixando um aviso: "se estão a brincar com este país, fiquem a saber que nós, os militares, não estamos na brincadeira e apenas vos chamámos para governar".
Salários em atraso, militares sem farda e falta de outros meios para operações, foram algumas das queixas apontadas pelo general para criticar a falta de investimento do Estado guineense em segurança.
"Se não fosse por estarmos cansados de problemas, há muito que já tinha havido um levantamento militar, porque estão a dar cabo de nós", acrescentou Indjai, num discurso em crioulo e na presença do primeiro-ministro de transição, Rui de Barros.
Ao líder do executivo, o general perguntou: "o que andam a fazer nas reuniões do conselho de ministros? Aquilo é só para discutir como fazer para ter uma quinta, para arranjar um carro, para mandar o filho estudar fora do país, é só isso".
António Indjai classificou o executivo como "um Governo de engolidores: cada um engole [o dinheiro público] e não quer saber do povo".
O líder dos militares admitiu, por exemplo, negociar diretamente com barcos estrangeiros as licenças de pesca nas águas da Guiné-Bissau para assim obter financiamento, acusando o Governo de não saber rentabilizar os recursos naturais.
"Senhor primeiro-ministro, tem que tomar decisões. Se não puder, avise-nos. Sei que a comunidade internacional vai dizer que somos nós que estamos a mandar neste país, mas temos uma palavra a dizer na governação", destacou.
O líder das Forças Armadas lamentou que tenha sido negada uma proposta dos militares para integrarem os atuais órgãos de gestão da tesouraria pública.
António Indjai deixou mais uma nota no discurso: "nas próximas eleições, se não me matarem, vou-me candidatar para mostrar às pessoas como é que se governa um país. Mas mesmo que venha a ganhar, vou por outra pessoa como Presidente".
Rui de Barros, primeiro-ministro de transição, respondeu a Indjai, dizendo que as falhas "dizem respeito a problemas antigos", cuja resolução "não é fácil".
O governante queixou-se de não existir "uma lei orgânica do serviço de Segurança", referindo que "sem isso, é difícil funcionar".
"Alguém pode nomear ou dar ordens a quem bem entender no âmbito da Segurança de Estado porque não existe uma lei orgânica. Isso demonstra a nossa desestruturação. É por aí que devemos começar", acrescentou.
António Indjai foi acusado em abril pelo procurador de Manhattan, Estados Unidos, de participação numa operação internacional de tráfico de droga e armas.
A acusação surgiu poucas semanas depois de os Estados Unidos terem anunciado a prisão de Bubo Na Tchuto, antigo chefe da marinha da Guiné-Bissau, e de outros guineenses acusados de tráfico de droga.
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