Zé da Guiné revolucionou a noite lisboeta
Guineense tornou-se uma figura marcante da noite cultural lisboeta. Morreu Sexta feira, vítima de doença neurodegenerativa progressiva e fatal.
Zé da Guiné revolucionou a noite lisboeta
Natural da Guiné-Bissau, onde nasceu a 4 de Janeiro de 1959, José Osaldo Barbosa teve uma passagem breve pela guerrilha na luta pela libertação.
"Zé da Guiné” figura marcante da vida noturna e cultural de Lisboa, morreu Sexta Feira na cidade onde chegou na década de 1970, disse à agência Lusa fonte da embaixada da Guiné-Bissau em Portugal.
De acordo com o segundo secretário da embaixada, Bacar Sanhá, Zé da Guiné faleceu " Sexta Feira, no Hospital de São José, onde estava internado há algum tempo". O corpo deverá ser trasladado para o país onde nasceu, já que "o desejo dele sempre foi ser sepultado na Guiné-Bissau", adiantou.
Zé da Guiné sofria há mais de dez anos de esclerose lateral amiotrófica, doença neurodegenerativa progressiva e fatal.
Há dois anos foi exibido pela primeira vez, em Lisboa, o documentário "Zé da Guiné - crónica dum africano em Lisboa", sobre a vida de uma "figura emblemática" da capital. O documentário de José Manuel Lopes, que pretendeu homenagear o homem que "deu a noite à cidade", começou a ser feito em 2001, mas passou dez anos "em stand by", esperando financiamento aqui e ali, contou na altura o realizador.
"Antes do Zé da Guiné as noites eram escuras, frias e metiam medo", recorda a sinopse do filme .
Estávamos em finais dos anos 70. Nascido na Guiné-Bissau, Zé passa pela guerrilha do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e, na altura do 25 de Abril, desembarca em Lisboa "atrás de um sonho".
"Acaba por liderar a mudança de costumes, da noite, de Lisboa", resumiu o realizador. Zé introduz-se no meio estudantil através de uns primos e participa nos primeiros movimentos de 'okupas'.
Zé da Guiné acabou por se transformar "num perfeito lisboeta" - "É mais lisboeta do que eu, ele conhece tudo, as ruas, as pessoas, os locais", disse José Manuel Lopes.
O realizador conheceu Zé da Guiné "nas noites". "Era uma figura emblemática em termos de presença física e extremamente sociável", recorda. Começou por ter com ele uma "relação de afastamento", até porque "o Zé da Guiné metia algum respeito". Só posteriormente se tornaram amigos.
A ideia do filme nasceu em 2001, quando Zé da Guiné já estava doente, mas na altura "recusava-se a aceitar isso".
Em 2010, um grupo de amigos criou uma conta-solidariedade para ajudar Zé da Guiné.
Como escreveu na altura da homenagem Miguel Esteves Cardoso numa crónica no PÚBLICO:
"Zé da Guiné é um grande artista. Não foi só uma inspiração, um exemplo e um catalisador, embora também fosse essas coisas. Criou ambientes e criou mentalidades. Abriu caminhos e diversões. A noite de Lisboa era fechada, triste, mesquinha e clandestina antes do Zé e do Manuel Reis [Frágil/Lux], cada um à maneira dele. Contra todas as más vontades, burocracias, pessimismos e letargias, estes dois artistas públicos conseguiram abri-la, alegrá-la, engrandecê-la e mergulhá-la no presente."
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