O próximo congresso do PAIGC poderá realizar-se sem o seu líder, Carlos Gomes Júnior, que está exilado em Portugal. O político guineense afirma numa entrevista exclusiva que a direção do partido o tem vindo a ignorar.
A direção do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) está a marginalizar o seu líder e a tomar decisões à sua revelia. A denúncia é feita pelo próprio Carlos Gomes Júnior, presidente do PAIGC desde 2002, no âmbito dos preparativos do oitavo congresso ordinário do partido, que já foi adiado por seis vezes.
"Isso foi objeto de uma carta que enderecei ao último comité central a dar conta de certos atropelos que foram feitos sem o meu conhecimento", conta Gomes Júnior. "Os estatutos do partido são claros e dizem que, na sua ausência, o presidente é substituído por um dos vice-presidentes saídos do congresso. Toda a ação que esse vice-presidente tiver que levar a cabo tem de ser com o conhecimento do presidente do partido. E tem de ter um mandato expresso para esse fim, o que não tem acontecido."
O conflito armado de 1998 e 1999 dividiu o PAIGC, então na oposição. "Cadogo", como também é conhecido, assumiu a liderança em "momentos muito difíceis". Diz que contribuiu com outros dirigentes para unir os militantes e repor o partido no xadrez político guineense. Por isso, lamenta o facto do congresso, adiado para novembro, estar a ser preparado sem o seu devido conhecimento.
"Penso que, num partido responsável como o PAIGC, os seus militantes deveriam, em primeiro lugar, aguardar os relatórios do presidente do partido. Deviam estar unidos e exigir o regresso do presidente", diz o político guineense.
Conquistas
Carlos Gomes Júnior recorda que, com a sua liderança, o PAIGC ganhou várias lutas, sendo as legislativas de 2004 uma delas. Em 2008, o partido venceu com maioria qualificada pela primeira vez na história da Guiné-Bissau. Com a sua direção, o partido conseguiu inscrever-se na família da Internacional Socialista.
Depois da morte de Malam Bacai Sanhá, Gomes Júnior ganhou as presidenciais de 2012, logo na primeira volta, com 49 por cento, sem que tivesse sido possível realizar a segunda volta, impedida pelo golpe de Estado de 12 de abril do mesmo ano. Antes disso, acrescenta, o país estava no bom rumo.
"Depois do golpe de Estado, infelizmente houve um retrocesso", afirma Carlos Gomes Júnior. Agora, seria preciso "unir a família guineense" para discutir a situação no país e de forma a continuar "a merecer a confiança da comunidade internacional."
Militantes "na sombra"
Carlos Gomes Júnior, exilado há cerca de 18 meses em Portugal, anunciou em agosto deste ano a intenção de regressar ao país para se apresentar como candidato número um do PAIGC às eleições presidenciais. Mas a sua ausência fragilizou o partido histórico, reconhece o político.
"Há uns que, estando sempre na sombra, só saem quando o país está em convulsão", comenta Gomes Júnior. "Esses é que se arrogam o direito de dirigir o partido, o país e de assaltar o poder. Como é que se compreende? Um partido que ganhou eleições com maioria qualificada vai aceitar integrar um governo dito de inclusão, relegando o seu líder e toda a direção para segundo plano? Não é normal. Esses é que serão os responsáveis pelo que vier a acontecer no futuro do PAIGC."
Regresso à Guiné-Bissau?
A falta de segurança é uma das razões que condicionam o regresso de Gomes Júnior para participar no congresso e apresentar a sua candidatura.
"Para mim, seria salutar. E seria, de facto, uma grande satisfação para todos os nossos militantes ver regressar o seu líder", refere. "Mas alguns dirigentes entenderam que podem fazer o congresso sem o presidente do partido. Bom, só lhes desejo muita sorte e que continuem a dirigir o partido de Amílcar."
Entretanto, "Cadogo" afirma que não vai cruzar os braços até honrar os compromissos que assumiu perante os guineenses.
Fonte: DW.
Sem comentários:
Enviar um comentário