Lisboa, 06 jul (Lusa) -- O secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) reconhece que a organização foi "apanhada de surpresa com a posição" da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) sobre o golpe de Estado na Guiné-Bissau.
As reações ao golpe militar registado a 12 de abril e que derrubou os governantes guineenses eleitos levaram a CPLP "a acreditar que a comunidade internacional estava alinhada sobre os mecanismos para a reposição da ordem constitucional" no país.
"Nós fomos apanhados de surpresa com a posição, que nós consideramos diferente, por parte da CEDEAO", admite o secretário executivo, o guineense Domingos Simões Pereira, em entrevista à Lusa.
Apesar disso, garante, a CPLP não quis "disputar a competência da CEDEAO" e manteve uma "posição responsável", voltando a pedir ao Conselho de Segurança da ONU que clarificasse as orientações. O organismo internacional respondeu que mantinha "a CEDEAO como principal interlocutor das autoridades da Guiné-Bissau".
Desde essa altura, recorda Simões Pereira, "a CPLP tem participado em todos os esforços, em todas as reuniões promovidas pela CEDEAO, no sentido de encontrar uma solução para a Guiné-Bissau" e "está permanentemente a avaliar qual é a melhor forma de assistir" o país.
O verbo 'afetar' "talvez não seja o mais exato" para o que sucedeu na relação CPLP-CEDEAO, mas Simões Pereira reconhece que as organizações "têm interpretações diferentes sobre o mecanismo de reposição da ordem constitucional" -- sendo esta um objetivo comum. "Como lá chegar é que divide realmente as partes", diz.
Escusando-se a comentar uma eventual saída da Guiné-Bissau da CPLP -- o governo de transição admitiu "questionar" a presença do país na organização lusófona --, o secretário executivo disse apenas que "é uma manifestação de intranquilidade" e apelou à "ponderação" de todas as partes.
"Se o governo de facto no país considera que a atuação da CPLP coloca alguma pressão nele, espero que também saiba reconhecer que o acontecimento de dia 12 de abril colocou a CPLP numa situação muito complicada (...), porque nos princípios da CPLP há uma diretriz muito clara, de que é ao povo que compete decidir quem são os seus legítimos representantes", assinala.
"Há quem diga que nos devíamos render a essa realidade [do governo de transição] e nos ajustarmos a essa realidade. Os nossos órgãos competentes continuam a ter dificuldade em aceitar isso, porque isso significa, na nossa interpretação, retirar ao povo esse direito", esclarece, realçando, contudo, que "é um processo dinâmico".
Não se sabe ainda como é que a Guiné se fará representar na 9.ª conferência de chefes de Estado e de Governo, que vai realizar-se em Maputo, capital moçambicana, no dia 20 de julho, mas, "até uma ordem contrária, todas as reuniões da CPLP depois do 12 de abril, têm tido o Governo saído das últimas eleições: o Presidente interino, Raimundo Pereira, e o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior".
No dia 11, o Conselho de Ministros da CPLP vai realizar uma reunião extraordinária, na qual debaterá a representação oficial da Guiné-Bissau. "A atual situação é difícil, mas para todos, e espero que as pessoas saibam reconhecer que não foi a CPLP a produzir essa situação", frisou Domingos Simões Pereira.
SBR.
Lusa
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