O governo precisa de mais assistência para recuperar o controlo sobre essas ilhas, que são um refúgio seguro para os aviões ligeiros e os barcos rápidos".
Nações Unidas
O Conselho de Segurança reuniu-se hoje (sexta-feira), para discutir o último relatório sobre a Guiné-Bissau, onde uma rara e pacífica transição de poder teve lugar em Julho com a eleição de um novo presidente, Malam Bacai Sanhá, depois de golpes, contra-golpes e de uma guerra civil.
Joseph Mutaboba, representante do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na Guiné-Bissau, disse ao Conselho de Segurança que "o tráfico de droga e o crime organizado continuam a ser um desafio significativo para a estabilidade na Guiné-Bissau e na sub-região", apesar da tendência para uma diminuição no tráfico de cocaína através da África Ocidental registada nos últimos meses.
De acordo com a Agência das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC), verificou-se uma quebra significativa nas apreensões de droga na África ocidental nos últimos 18 meses, corroboradas por um declínio igualmente forte nas apreensões feitas pelos europeus tendo como origem a África Ocidental.
Contudo, o director executivo da UNODC, António Maria Costa, disse ao Conselho que os esforços internacionais podem ter levado as rotas do tráfico a desviarem-se mais para sul, ou mais para o interior.
A ameaça para a Guiné-Bissau, embora menos óbvia do que no passado é ainda grave, sustentou, notando que houve relatos de tráfico através de muitas ilhas propriedade de privados do arquipélago da Guiné-Bissau.
"O governo precisa de mais assistência para recuperar o controlo sobre essas ilhas, que são um refúgio seguro para os aviões ligeiros e os barcos rápidos", disse Costa. "Exorto por isso o Conselho a não ser complacente".
O chefe da UNODC, citou três novos elementos "perturbantes" que têm de ser enfrentados.
Por um lado, as "quantidades crescentes de drogas que chegam aos países da África Ocidental e estão a ser consumidas localmente, o que é novo mas não surpreendente", por outro "os preços baixos e o elevado fornecimento de cocaína, particularmente na Guiné-Bissau, que provocam grandes estragos entre a juventude já afectada por outros problemas".
Costa assinalou ainda a existência de "relatos de consumo de droga, (bem como de tráfico) entre os militares".
"Isto ameaça mais do que a reforma do sector de segurança", constatou, para destacar:"Cria exércitos de drogados".
António Maria Costa, disse ao Conselho de Segurança que, desde Julho, a UNODC e a Interpol têm estado a investigar várias instalações em países da África Ocidental onde encontraram grandes quantidades de químicos usados para produzir cocaína de elevada qualidade e no fabrico de ecstasy.
A África Ocidental está à beira de se tornar uma fonte de drogas, bem como um ponto de trânsito", avisou Costa.
Sublinhou, contudo, que essas instalações não se situavam na Guiné-Bissau, mas muito perto das suas fronteiras.
"Agora, algo semelhante pode ocorrer na Guiné-Bissau onde os traficantes de droga adquiriram terrenos e têm uma importante posição imobiliária", avisou.
Costa considerou o país "muito vulnerável", apontando o seu fraco sistema judicial, um espaço aéreo e marítimo fora de controlo e fronteiras terrestres abertas.
Por sua vez, Mutaboba disse que juntamente com o tráfico de droga e o crime organizado a estabilidade na Guiné-Bissau está também ameaçada por "políticas hegemónicas" e divisões partidárias.
"Muito depende da capacidade do partido do Governo para abandonar políticas exclusivas e desenvolver a inclusão e a responsabilidade", advogou.
Durante a discussão do relatório, Mutaboba referiu que o Governo tem centrado a sua acção em gerir as consequências dos assassínios do antigo Presidente "Nino" Veira, do chefe das Forças Armadas, Tagmá Na Waié, do candidato presidencial Baciro Dabó e do antigo ministro da defesa Helder Proença, havendo a percepção de que, noutras áreas críticas, os progressos realizados foram limitados.
O representante do secretário-geral da ONU em Bissau defendeu a necessidade de uma investigação "transparente e minuciosa" dos assassínios daqueles dirigentes, bem como ao alegado golpe de Estado de Junho, para combater a impunidade, restabelecer a confiança pública e estabelecer a verdade.
Num comunicado lido pelo embaixador Thomas Mayr-Harting da Áustria, país que preside em Novembro ao Conselho de Segurança, os seus 15 membros reiteraram a importância de consolidar a democracia, a segurança e o império da lei, a reconciliação nacional e a luta contra a impunidade para garantir uma paz sustentada na Guiné-Bissau.
O Conselho de Segurança exortou as autoridades de Bissau a tomaram as acções necessárias para combater o tráfico de droga e o crime organizado e garantir que o sector de segurança seja eficaz, profissional e responsável.
Sem comentários:
Enviar um comentário