Bissau- A campanha eleitoral para as eleições presidenciais de dia 18 na Guiné-Bissau representa uma rotura em relação ao passado, porque pela primeira vez a paz é o tema dominante de todos os candidatos, defende o analista Fafali Koudawo, citado hoje
pela Lusa.
Doutorado em Ciências Políticas, reitor da universidade Colinas de Boé, investigador de origem togolesa, Fafali Koudawo lê assim a campanha da Guiné-Bissau, e vê com agrado que todos os candidatos são "pacíficos e até pacifistas".
"É uma grande evolução. A Guiné-Bissau tem sido rotulada como país de guerra, que fez 11 anos de guerra da libertação, depois 11 meses de guerra civil, e que teve vários episódios violentos. A produção da elite passou regularmente por meios violentos, mas todos querem romper com essa recorrência da violência e declaram-se a favor da paz e da reconciliação. Isso é notável", diz em entrevista à
agência Lusa a propósito das eleições de 18 de março.
Para esta nova visão, afirma, contribui a postura pacifista de Malam Bacai Sanhá, o Presidente que morreu em Janeiro passado do qual todos querem "recuperar a herança".
Mas há também uma "evolução da mentalidade". É que, diz, os guineenses "produziram parte da sua história pela guerra", produziram "elites militares que se sucederam de forma violenta" e um tipo de herói que é o "herói armado", e agora tudo isso é considerado contraproducente.
"A Guiné-Bissau torna-se cada vez mais civil no seu pensamento, e um civil que pensa que a via pacífica é a melhor. Afasta-se dos heróis violentos para encarar um futuro apaziguado, em que a tecnicidade, a inteligência, o diálogo e o convívio civil seria o melhor, em que os direitos cívicos seriam agora referência", afirma.
É uma nova forma de estar sem que tenha havido renovação no "plantel político". "Kumba Ialá está na sua quinta campanha eleitoral para as presidenciais".
Na verdade, diz Fafali Koudawo que se para o povo a campanha pode suscitar algum interesse não será pelo conteúdo. "Porque nenhum candidato tem um conteúdo original, todos lutam contra a pobreza, todos vão construir infraestruturas e todos vão dar paz à Guiné-Bissau".
E, pior, "todos fazem promessas que não podem cumprir", porque "não falam da função presidencial mas da função Governo".
"Aqui, as populações são incapazes de aceitar que o Presidente da República não tenha uma função executiva activa. E o candidato, embora sabendo que não é sua função construir pontes e estradas, vai dizendo que o vai fazer. Vende promessas que não pode cumprir", diz o reitor.
Fafali Koudawo vê nestas eleições outra novidade: a "profunda divisão" na classe política, nomeadamente no maior partido (PAIGC), que vai ter consequências após as eleições".
"O maior partido tem três candidatos, com posturas de radical oposição e de críticas radicais uns contra os outros", salienta, frisando que o partido pode ficar "profundamente marcado".
Mas novidade não serão os "mecanismos de solidariedade" que se estão a verificar nestas eleições, como se verificaram em eleições passadas.
"Há um forte apelo a mecanismos de solidariedade identitária, étnica, cultural e religiosa. Isto vai marcar a campanha e é válido para todos os candidatos, que acusam os adversários de o fazer, mas que também fazem", diz Fafali Koudawo, para quem a negação do tribalismo e da solidariedade das etnias é só da boca para fora.
E o resto é o costume, a festa, a procura de benesses, o querer estar no poder. E, claro, os bonés, as camisolas, a música, a dança e os dias diferentes na Guiné-Bissau.
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