sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Médicos Sem Fronteiras alertam que ébola está fora de controlo

Organização quer mais investimento da ONU e dos governos depois do surto ter chegado à Nigéria.

O novo surto começou na Guiné-Conacri e já se espalhou para países como a Libéria e a Serra Leoa SEYLLOU/AFP


A epidemia do vírus ébola está totalmente fora de controlo na zona oeste de África e há o risco de a doença se conseguir espalhar para mais países, de acordo com um alerta feito nesta quarta-feira pela organização Médicos Sem Fronteiras, que tem várias equipas a trabalhar no terreno.

“Esta é uma epidemia sem precedentes, que não está de todo controlada e a situação não pára de se agravar, estendendo-se agora à Libéria e à Serra Leoa”, adiantou o responsável de operações da Médicos Sem Fronteiras, Bart Janssens, numa entrevista ao jornal Libre Belgique, citada pela AFP. “Estamos extremamente inquietos com a dimensão que esta situação está a ter, em especial nestes dois países onde a epidemia tem uma falta de visibilidade muito grande”, acrescentou.

De acordo com Bart Janssens, se não houver uma intervenção rápida que inverta o curso dos acontecimentos, o ébola vai estender-se a mais países, ainda que admita que seja difícil de fazer previsões sobre esta epidemia, precisamente por não ter precedentes. “Falta uma visão global que nos permita compreender onde estão os principais problemas”, advertiu, defendendo que cabe à Organização Mundial de Saúde (OMS) e aos governos a disponibilização de mais meios para tentar debelar a epidemia.

O alerta é feito depois de no fim-de-semana o surto de ébola ter chegado à Nigéria, o país mais populoso de África, com 170 milhões de habitantes. As autoridades do país confirmaram que detectaram o primeiro caso fatal de infecção por este vírus altamente contagioso e mortal. A vítima foi um liberiano que tinha viajado para a Nigéria em trabalho e que acabou por morrer pouco depois de chegar ao aeroporto de Lagos, no sudoeste do país, onde ainda ficou em quarentena.

Ajuda suplementar da Comissão Europeia
Entretanto, a União Europeia disponibilizou uma ajuda suplementar no valor de dois milhões de euros para ajudar a combater a epidemia em África, assegurando cuidados de saúde às pessoas afectadas pelo vírus, diz a AFP. O reforço eleva para 3,9 milhões de euros o contributo total da Comissão Europeia. Os fundos serão distribuídos pela Organização Mundial da Saúde e por outras associações que estão a trabalhar no terreno, como os Médicos Sem Fronteiras e a Cruz Vermelha.

Portugal também vai enviar 15 toneladas de medicamentos para apoiar a Guiné-Bissau na prevenção do Ébola e outras epidemias, anunciou o primeiro-ministro guineense, Domingos Simões Pereira. "Recebemos confirmação do Governo português da disponibilização de 15 toneladas de medicamentos para que o Ministério da Saúde esteja em condições de ter um programa de emergência e acompanhamento da situação de Ébola", bem como de outras "eventuais epidemias", referiu, citado pela Lusa. O envio surge depois de a Guiné-Bissau ter "lançado um SOS para reposição do stock de medicamentos, tendo em vista o programa de emergência para a epidemia de Ébola que assola a África Ocidental".

Questionado sobre as medidas que o país está a preparar para se defender, o líder do Governo guineense anunciou um plano de urgência "de que consta um programa de prevenção sanitária que tem merecido a atenção especial dos responsáveis na área da saúde", referiu. Seis médicos recém-formados e dois técnicos do Ministério da Saúde Pública da Guiné-Bissau ligados à água e saneamento receberam este mês formação de cinco dias sobre a prevenção e cuidados a ter com o vírus. A equipa está apta a deslocar-se rapidamente a qualquer parte do país para dar atendimento em caso de suspeita de contágio.

A propósito do alastrar do surto a mais países, a Direcção-Geral da Saúde garantiu à Lusa que Portugal está preparado para detectar e enfrentar um eventual caso de ébola, mas sublinhou que o risco de importação e propagação é "muito baixo". Portugal está preparado, tal "como os restantes países europeus, para detectar um eventual caso que possa ser importado", disse a directora-adjunta da Direcção-Geral da Saúde (DGS), Graça Freitas.

Mais de 700 mortes desde Fevereiro
Identificado pela primeira vez na década de 1970 no Zaire (actual República Democrática do Congo) e no Sudão, o vírus transmite-se directamente pelo contacto com o sangue, fluidos ou tecidos corporais de pessoas e animais infectados e é mortal em 90% dos casos, tendo porém melhor prognóstico quando é detectado atempadamente. A doença começa por provocar sintomas semelhantes aos da gripe: mal-estar geral, febre e dores de cabeça. A seguir, surgem sintomas mais graves, como vómitos, erupções cutâneas, diarreia hemorrágica. Só desde Fevereiro já morreram quase 700 pessoas devido ao ébola na África Ocidental – um número que faz com que este seja o surto mais mortal de sempre.

Este surto de ébola, que começou na Guiné-Conacri, já se espalhou para países como a Libéria e a Serra Leoa. Aliás, cerca de 100 das mortes foram precisamente na Libéria. O médico liberiano Samuel Brisbane, uma figura de destaque no país, foi uma das vítimas mortais. Também o conhecido médico Sheik Omar Khan, reconhecido virologista da Serra Leoa, morreu na terça-feira numa ala de tratamento dos Médicos Sem Fronteiras, no norte do país. Este virologista foi responsável por tratar mais de 100 doentes infectados com o vírus, de acordo com a agência Reuters.

Sem comentários:

Enviar um comentário