O secretário-geral das Nações Unidas lançou na quarta-feira a estratégia mundial para a saúde materna e infantil. O anúncio do plano, cujo objectivo é evitar a morte de mais de 15 milhões de crianças com menos de cinco anos e de 740 mil mulheres devido a complicações durante a gravidez e no parto, e a prevenção de 33 milhões de gravidezes não desejadas, marcou o último dia da cimeira convocada por Ban Ki-Moon para relançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.
A agenda do dia foi marcada por uma série de eventos paralelos, envolvendo os chefes das delegações ou seus representantes. Logo pela manhã, teve lugar, no Trygve Lie Center do Instituto Internacional da Paz, em Nova Iorque, um encontro de trabalho sobre a elaboração de políticas no domínio da paz e segurança no continente africano, em que Angola se fez representar pelo secretário de Estado das relações Exteriores, George Chicoty, o embaixador de Angola na União Africana, Manuel Augusto, e o conselheiro Daniel Rosa.
O encontro, agendado de propósito para o dia consagrado à paz no mundo, teve a participação do presidente da Comissão da União Africana, Jean Ping. O dia teve ainda outro evento de realce: um encontro organizado pela secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, e pela ministra dos Negócios Estrangeiros da Irlanda, no qual se discutiram formas de parceria com vista à redução da má nutrição, na qual Angola tomou parte com a presença da ministra conselheira Isabel Godinho.
A par disso, prosseguem os trabalhos da reunião de alto nível sobre os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, com o desfile de discursos, em que líderes de vários países, desde a poderosa Alemanha à desconhecida República de Vanuatu, com maior ou menor dose de cepticismo, apresentaram inquietações e indicaram soluções para que, até 2015, as metas do milénio sejam uma realidade.
Em declarações ao Jornal de Angola, logo após a apresentação do seu discurso, o Primeiro-Ministro de Cabo-Verde disse que a crise internacional “não pode ser uma desculpa para não realizarmos os objectivos de desenvolvimento do milénio”. José Maria Neves defende uma perspectiva mais optimista na abordagem do fenómeno que colocou de rastos as economias do mundo e que, segundo a opinião da maioria dos líderes presentes na reunião, forçou o adiamento ou, nalguns casos, o recuo na implementação dos objectivos de desenvolvimento.
O chefe do Governo cabo-verdiano entende que a crise deve ser encarada como uma “oportunidade para trabalharmos no sentido de alcançarmos o desenvolvimento do continente africano”. José Maria Neves acrescenta que a 65ª Assembleia-Geral das Nações Unidas poderá ser benéfica para África, no que toca ao relançamento do compromisso com as Metas do Milénio. “Penso que África é um continente do futuro. Sou extremamente optimista e positivo nesta matéria e considero que a atitude fundamental passa por África, pelos seus líderes, pelos seus dirigentes. África deve assumir-se como protagonista do seu próprio futuro, deve ter uma visão clara, uma estratégia de desenvolvimento”, disse.
O Primeiro-Ministro cabo-verdiano defendeu ainda uma postura diferente da dos líderes africanos, avessa às ajudas internacionais. “África deve trabalhar para ultrapassar a questão das dádivas, das ajudas internacionais. Deve trabalhar no sentido de estabelecermos parcerias fortes para o desenvolvimento do continente. Hoje, mais do que nunca, África depende de si para construir o seu próprio futuro”, realçou.
Também à margem da reunião, o Jornal de Angola ouviu Luís Amado, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, que manifestou “esperança de que os trabalhos que têm vindo a ser desenvolvidos possam dar resultado”.
O governante português defendeu a necessidade de se introduzirem “mudanças importantes”, de modo a que os objectivos se mantenham vivos na agenda de todos os Estados que fazem parte da comunidade internacional. “É muito importante que a comunidade internacional, no seu conjunto, assuma a responsabilidade de reduzir a pobreza e os níveis de desenvolvimento entre as várias regiões do mundo”, disse.
Luís Amado sublinhou que as mudanças verificadas durante a última década não podem ser descuradas no momento de avaliar a implementação dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. “O mundo mudou muito na última década. Como sabemos, os objectivos foram assumidos há dez anos, em 2000. Depois da crise económica e financeira, depois de profundas mudanças estruturais que nós tivemos pelo mundo, é hoje possível perceber que nem todos eles vão ser atingidos. Por isso, é preciso fazer um esforço suplementar para criar novas condições de acção política conjunta (países ricos, países em desenvolvimento, países menos desenvolvidos) para que esses objectivos sejam mais rapidamente atingidos”, disse.
Candidatura de Portugal ao Conselho de Segurança
Entretanto, pelos corredores e salas de reuniões da sede da ONU, três países desdobram-se em contactos para conseguir o maior número de apoiantes à vaga no Conselho de Segurança. Alemanha, Canadá e Portugal disputam um lugar no órgão das Nações Unidas que tem responsabilidades sobre a segurança e a paz mundial. Na segunda-feira, dia da abertura da reunião sobre os Objectivos do Milénio, a chanceler alemã Ângela Merkel chamou os chefes de delegações e representantes dos países africanos para um almoço na Missão permanente da Alemanha, em Nova Iorque. Angola participou no encontro com o secretário de Estado das Relações Exteriores e o chefe da Missão Permanente nas Nações Unidas, Ismael Gaspar Martins.
O piscar de olho da chanceler alemã aos líderes africanos, em nada alterou o sentido de voto de Angola, que através de George Chicoty, em declarações à imprensa, em Nova Iorque, já anunciou o apoio angolano à candidatura portuguesa. Mas parece vir da própria candidatura lusa os primeiros sinais de incerteza quanto ao êxito da campanha, face à concorrência quer da Alemanha, quer do Canadá. O ministro dos Negócios Estrangeiros considerou “moderadamente optimistas” as expectativas de Portugal, na disputa pela vaga de membro não permanente do Conselho de Segurança.
“Mantemos a confiança, pelos contactos que temos tido e pelo que nos tem sido transmitido pelos nossos parceiros, em que Portugal tem uma oportunidade, embora esteja a competir com dois Estados mais ricos, com mais recursos, com mais influência, com mais presença no mundo do que Portugal, como é o Canadá e a Alemanha”, disse o ministro, acrescentando que as posições “mais equilibradas e mais abertas” que o seu país e Governo têm assumido nos últimos anos, nas Nações Unidas e noutros fóruns internacionais, possam ter reflexos na mobilização de aliados e amigos.
Sobre o apoio de Angola, Luís Amado disse não ser de estranhar, por serem países que comungam das mesmas ideias relativamente a várias questões da política internacional. “Partilhamos a mesma visão sobre as relações entre o mundo ocidental e o continente africano, o reforço do papel deste na economia mundial e no sistema internacional, o papel da ONU enquanto garante da lei e da ordem internacionais, creio que essa concordância de posições entre as diplomacias angolana e portuguesa também favorece a convergência entre Angola e Portugal”, disse.
Presidência angolana da CPLP e a Guiné-Bissau
Portugal vê com muito entusiasmo o esforço diplomático da presidência angolana da CPLP para solucionar a questão da estabilidade na Guiné-Bissau. Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, é notável a nova dinâmica na abordagem do “caso Guiné-Bissau”, depois de Angola assumir a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. “Penso que a presidência angolana trouxe um novo vigor, uma nova energia na abordagem do problema da Guiné-Bissau, que a presidência portuguesa não teve nem podia ter. Na minha perspectiva, como ex-potência colonial e tendo feito uma guerra na Guiné-Bissau, sendo também o sector militar um dos factores do problema daquele país, tinha naturalmente uma inibição na presidência portuguesa que Angola não tem”, sublinhou.
Além disso, afirmou acreditar que “sob a liderança da presidência angolana da CPLP, em colaboração com as Nações Unidas, a CDEAO e a União Africana”, existe maior optimismo em relação à estabilidade da Guiné-Bissau, a médio e longo prazo.
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