Esta medida deverá servir de exemplo aos "marabouts" pouco escrupulosos, que exploram crianças e as obrigam à mendicidade, quase em regime de escravidão. Dois outros mestres corânicos vão ser julgados nesta quinta-feira.
Pela primeira vez na hiqstória do Senegal, 7 mestres corânicos foram condenados ontem (8/09/2010) pelo Tribunal de Dakar, a 6 meses de pena suspensa e 150 euros de multa (100.000 francos CFA) por terem obrigado crianças a mendigar.
Os 6 mestres corânicos senegaleses e um bissau-guineense, estão pois em liberdade, mas este exemplo poderá ser dissuasor para os "marabouts", que enviam diáriamente para a rua milhares de crianças esfarrapadas, descalças, obrigadas a pedir ora dinheiro, ora um pouco de açúcar, arroz, etc..
A ONG de defesa de Direitos Humanos Human Rights Watch, entrevistou dezenas destas crianças, com idades compreendidas entre os 6 e os 16 anos e no passado mês de abril publicou um relatório, acusando o governo senegalês de cruzar os braços, face a pelo menos 50.000 crianças talibés, muitas vindas da Guiné Bissau, exploradas, maltratadas e obrigadas a mendigar nas ruas, em nome da religião.
A HCR pediu à ONU, CEDEAO, e Organização da Conferência Islâmica, que denunciem a mendicidade forçada, como uma prática contrária às obrigações em matéria de Direitos Humanos, e instou o governo senegalês a perseguir os traficantes e mestres, que maltratam as crianças, e garantir a proteção e repatriamento das vítimas de mendicidade forçada.
No Senegal, as escolas corânicas não são sujeitas a qualquer regulamentação jurídica, e logo não tem subvenções estatais, mas dar esmolas aos pobres é uma tradição islâmica secular.
Por pressão dos parceiros internacionais, que acusaram o Senegal de nada fazer para impedir o tráfico de Seres Humanos, as autoridades senegalesas proibem desde 2005 a mendicidade nos espaços públicos, autorizando as esmolas diante dos espaços de culto.
Liliana Henriques ouviu o porta-voz da Human Rights Watch, Reed Brody, para quem estas condenações representam um passo importante, para pôr termo à exploração e forma moderna de escravatura, a que são submetidas crianças vulneráveis, a coberto de ensino religioso nas “madrassas” do Senegal.
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