O golpe de Estado do passado dia 12 na Guiné-Bissau volta hoje, pela terceira vez em quatro dias, a ser tema de editorial do diário estatal Jornal de Angola, agora caraterizando os militares guineenses como "um bando de aventureiros".
Sob o título "Um problema mundial", o editorial, geralmente da responsabilidade do diretor, José Ribeiro, salienta que a intervenção dos militares guineenses constituiu um choque mas não uma surpresa.
"Quando se pensava que a normalização da situação política na Guiné-Bissau era um facto com o processo eleitoral abruptamente interrompido, a comunidade internacional e, em particular o mundo que fala português, ficou chocado com a notícia de mais um golpe de Estado. Não podemos falar de surpresa, porque o papel dos militares tem-se caraterizado pela usurpação das atribuições dos políticos", lê-se no editorial, que habitualmente vincula as posições do Governo.
Designando os militares golpistas como "bando de aventureiros", o editorial reconhece que a saída para mais esta crise "tem que ser negociada e com muita diplomacia", mas logo a seguir conclui a impossibilidade de um acordo.
"Mas negociar com golpistas que não sabem o que querem, é muito difícil, para não dizer impossível", acentua-se.
Na edição de domingo, no espaço "A Palavra do Director", Filomeno Manaças, diretor-adjunto do Jornal de Angola, escreveu que "o que se sabia e estava anunciado acabou por ser consumado na Guiné-Bissau, com os militares a intervirem mais uma vez em assuntos de política interna do país ao protagonizarem o golpe de Estado que estava na forja".
Manaças considera que o golpe atendeu "claramente" os interesses da hierarquia militar e dos candidatos derrotados na primeira volta das eleições presidenciais, designadamente o candidato Kumba Ialá, "profundamente comprometido em todo o enredo".
"As alegações avançadas pelo porta-voz do comando militar que tomou o poder em Bissau para justificar o golpe pouco mais passam disso. Daba Na Walna disse à imprensa que o golpe surge na sequência de um 'mal-estar' que se instalou no país com "a chegada dos primeiros armamentos da Missang (missão militar angolana de apoio à reforma do setor de defesa guineense) e posterior denúncia da preparação de um complot".
"O histórico das ocorrências militares na Guiné-Bissau fez da Missang uma missão de risco que não era possível a qualquer Exército levar avante sem que as precauções adequadas fossem asseguradas", escreveu Filomeno Manaças.
A primeira referência institucional do Jornal de Angola ao golpe de Estado do dia 12 na Guiné-Bissau surgiu na edição de sábado, com um editorial em que se conclui que "os militares da Guiné-Bissau continuam a colecionar golpes contra a democracia, contra os guineenses e contra eles próprios. De golpe em golpe, estão a liquidar o país e a confiscar o futuro deles e dos seus filhos".
"Esta é a triste realidade da Guiné-Bissau. Militares que em vez de defenderem a pátria, condenam-na à morte. Em vez de defenderem a ordem constitucional, disparam contra ela, impiedosamente. Em vez de defenderem a vida humana, matam todos os que se opõem aos seus negócios", sublinha-se no editorial da edição de sábado.
Neste primeiro editorial, o Jornal de Angola conclui que a intervenção dos militares não constitui sequer novidade.
"Este não é um problema de hoje. Nem sequer é uma novidade. Começaram por assassinar Amílcar Cabral, em conluio com a PIDE e as tropas coloniais, e nunca mais acabaram. Quando depuseram Luís Cabral ainda lhe pouparam a vida. Mas desde então, alimentam-se do sangue das suas vítimas. Vai longa a lista de políticos e militares assassinados por sucessivas hordas de golpistas na Guiné-Bissau", destaca-se no editorial.
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