O primeiro-ministro guineense, Carlos Gomes Júnior, foi obrigado pelos militares golpistas a assinar a carta que, posteriormente, apresentaram como prova de existência de um ‘acordo secreto’ entre os governos de Angola e Guiné-Bissau.
Na versão original, com data de 12 de Abril, o mesmo dia em que foi o dirigente político foi detido, apenas constava o seu nome, sem qualquer assinatura no esboço do documento que iria ser enviado ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, ao presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, e às chefias militares guineenses.
O líder angolano recebeu o documento das mãos do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Jorge Chicoty, e o assessor jurídico de Carlos Gomes Júnior confirmou ter entregado o documento a uma alta patente militar de Bissau, sem revelar a sua identidade.
Três dias depois da detenção de Carlos Gomes Júnior, o auto-intitulado comando militar apresentou à imprensa a tal carta, mas já com a assinatura e o selo branco do seu gabinete. Na missiva, era possível ver uma observação do primeiro-ministro detido, indicando ao seu chefe de gabinete, Lineu Tolentino, que pusesse o selo branco no documento.
Apesar desta ‘oficialização’ da carta a Ban Ki-moon, o seu conteúdo faz cair por terra o argumento de acordo secreto entre os governos de Angola e Guiné-Bissau. Carlos Gomes Júnior explica ao secretário-geral das Nações Unidas que a recusa de cinco candidatos em aceitar o resultado das eleições pode ajudar a causar instabilidade no país.
Gomes Júnior explicou a Ban Ki-moon que Angola decidiu pôr fim à sua missão técnico-militar (MISSANG) em Bissau, algo que iria agravar ainda mais a frágil situação do seu país. Em consequência, pedia o envio de uma força de interposição, que integrasse Brasil, Angola, Gana e países da Comunidade Económica de Desenvolvimento da África Ocidental (CEDAO). Nenhum sinal da acusação feita pelos militares e que esteve na origem do golpe de Estado.
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