quarta-feira, 18 de abril de 2012

Oposição guineense mostra carta atribuída a Gomes Júnior que pede missão da ONU

Oposição guineense mostra carta atribuída a Gomes Júnior que pede missão da ONU

Forças políticas da Oposição guineense apresentaram esta quarta-feira aos jornalistas, em Bissau, uma cópia de um documento que alegam ter sido redigido pelo primeiro-ministro e número um do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Carlos Gomes Júnior, a solicitar às Nações Unidas uma força de manutenção de paz com um mandato amplo. A reprodução da carta, cujo conteúdo é citado pela agência Lusa, tem três páginas e é datada de 9 de abril - três dias antes do início do golpe de Estado que levou às detenções de Gomes Júnior e do Presidente interino, Raimundo Pereira.

É num contexto de acentuada pressão diplomática sobre o autodenominado Comando Militar da Guiné-Bissau - estrutura de liderança opaca que reivindicou o golpe de 12 de abril -, que os partidos políticos da Oposição ao Governo derrubado do PAIGC entregam à imprensa o alegado documento de Carlos Gomes Júnior

Trata-se, de acordo com a Lusa, da cópia de uma carta de três páginas com a data de 9 de abril e supostamente assinada, no final, pelo primeiro-ministro, que permanece até agora sob custódia dos militares golpistas, tal como o Chefe de Estado interino, Raimundo Pereira. Sem qualquer timbre ou carimbo, é endereçada ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. A quem é solicitada a formação de uma força de manutenção de paz, dotada de “amplos poderes”, para preservar a estabilidade política na Guiné-Bissau.

Os partidos da Oposição que estão a negociar com os militares golpistas devem assinar ainda esta quarta-feira com as Forças Armadas um “Acordo para a Estabilização e Manutenção da Ordem Constitucional e Democrática”.


Sem mais detalhes, Fernando Vaz, porta-voz das forças partidárias, afirmou que o entendimento “visa criar condições para o regresso do país à via constitucional e o respeito pelo processo democrático”.


“Com vista a se travar esta situação que ameaça a paz e a segurança da Guiné-Bissau, com possíveis repercussões regionais, solicito que o Conselho de Segurança, no âmbito das suas atribuições plasmadas no artigo 24.º, da Carta das Nações Unidas, como órgão garante da paz e segurança internacionais, analise, em sessão extraordinária, a situação interna da Guiné-Bissau em resultado da não-aceitação das eleições democráticas, livres, justas e transparentes, e delibere o envio de uma força de manutenção de paz na Guiné-Bissau, com poderes amplos”, exorta o documento.

A missão das Nações Unidas, prossegue a carta atribuída a Gomes Júnior, teria “o propósito de manter a estabilidade política no país e defender as conquistas democráticas que o povo da Guiné-Bissau dificilmente alcançou e deseja preservar, com vista ao desenvolvimento económico, social e cultural do país”.

“Uma situação desgovernada”

“Na qualidade de primeiro-ministro da República da Guiné-Bissau, venho, em nome do Governo e no âmbito da situação de emergência que ocorre no país, informar Vossa Excelência que a Guiné-Bissau pode vir a atravessar um novo momento de instabilidade política interna, devido à não-aceitação dos resultados eleitorais por cinco candidatos que concorreram às eleições presidenciais antecipadas de 18 de março passado”, vinca a carta alegadamente dirigida a Ban Ki-moon.


 

A ser verdadeira a autoria da carta, Carlos Gomes Júnior lembraria então o secretário-geral da ONU da existência de um acordo de cooperação entre a Guiné-Bissau e Angola, no âmbito do qual Luanda, através da MISSANG (missão de apoio militar), apoiaria as reformas em curso enquanto “fator de estabilização político-militar no país”.


Um acordo que, nos termos da carta, terminou por decisão das autoridades angolanas “devido à reação interna da ala militar”. Isto já depois de se salientar que pôr em causa os resultados eleitorais poderia ser uma manobra destinada a “influenciar negativamente os militares que, a qualquer momento, podem despoletar uma situação desgovernada e ter implicações que afetem a paz e a segurança, não só na Guiné-Bissau, como nos países da sub-região”.



“Por fim, Excelência, venho informar-lhe que a República de Angola e, eventualmente, o Brasil e o Gana estão na disposição de integrar a tal força de manutenção de paz, que pode ainda ser integrada por outros países da CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] e de outras regiões, desde que tal força seja aprovada pelo Conselho de Segurança em conformidade com a Carta e os propósitos das Organização das Nações Unidas”, teria escrito Gomes Júnior.


A alegada intenção, por parte de Carlos Gomes Júnior, de conseguir uma intervenção externa foi uma das razões enunciadas pelo militares golpistas para justificarem o afastamento, pela força, do primeiro-ministro e do Presidente interino.

“Perante o cenário, não podíamos ficar de braços cruzados à espera de uma força expedicionária do exterior para um país que não está em guerra”, sustentou o tenente-coronel Dabana Na Walna, porta-voz do Comando Militar.

Na passada sexta-feira, ao reivindicar o golpe, o Comando Militar justificava-se com a necessidade de defender as Forças Armadas de uma alegada agressão liderada por Angola, a coberto da União Africana.


A acusação assentava num “documento secreto” em que o Governo guineense daria luz verde a uma ofensiva angolana.


"O Comando Militar está na posse de um documento secreto visando legitimar a intervenção de Angola, através de um mandato do Conselho de Segurança e Paz da União Africana. Esse documento redigido por juristas é assinado pelo primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, e pelo Presidente interino, Raimundo Pereira”, referia a primeira nota dos militares golpistas.

Para ver copias supostamente orginais aceda oa Link em baixo
A carta de Carlos Gomes Jr a Ban Ki-Moon, e os bilhetes enviados da prisão a Carlos Pinto Pereira

A CÓPIA DA CARTA ENVIADA AO SECRETÁRIO-GERAL DA ONU, BAN KI-MOON, E CUJO PORTADOR FOI GEORGES CHICOTI, MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DE ANGOLA

http://novasdaguinebissau.blogspot.pt/p/documentos-actualidades.html

1 comentário:

  1. Os golpistas são assim mesmo: não olham a meios para atingir os fins que visam.
    Em Fevereiro/2012, esse Sr. Fernando Vaz não apregoava que iria criar todos os obstáculos possíveis às eleições presidenciais?
    E, pelos visto, cumpriu.
    Quem se alia a militares golpistas para derrubar instituições eleitas e impedir eleições não merece crédito. Pelo menos, à luz das regras democráticas ocidentais.

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