quinta-feira, 19 de abril de 2012

Golpe na Guiné-Bissau foi organizado quando os militares souberam que o primeiro-ministro ia pedir a intervenção da ONU

O golpe de Estado de quinta-feira passada na  Guiné-Bissau "começou a ser trabalhado" três dias antes, no dia 09, quando  os militares souberam que o primeiro-ministro ia pedir uma intervenção da  ONU, disse hoje o porta-voz dos militares. 

Em entrevista à Agência Lusa, Daba Na Walna, até aqui o rosto do Comando  Militar que desencadeou o golpe, explicou que a ação militar foi "uma espécie  de antecipação" do que aconteceria, um "golpe de legítima defesa", para  impedir que forças estrangeiras "viessem esmagar as Forças Armadas da Guiné-Bissau".

Tudo girou à volta da presença de uma missão angolana em Bissau, a chamada  Missang, explicou o tenente-coronel ao explicar o golpe, que disse ter sido  objeto de muita discussão, acabando por prevalecer a decisão de se avançar.

O golpe, com a prisão do Presidente interino e do primeiro-ministro,  deu-se poucas horas depois de uma conferência de imprensa em que Kumba Ialá,  líder do maior partido da oposição e candidato presidencial, disse que não  iria haver campanha de ninguém para a segunda volta das eleições presidenciais,  marcadas para dia 29. 

A associação entre as ameaças de Kumba Ialá e o golpe que se seguiu  foi feita mas Daba Na Walna garante que foi apenas uma coincidência. "Se Kumba Ialá estivesse a par do que estava a acontecer seria muito  imprudente dizer isso publicamente. Foi mera coincidência. Kumba Ialá não  tinha conhecimento de nada e é bom que isso fique bem claro. Tentou fazer-se  essa colação entre políticos e Forças Armadas, não tivemos nada a ver com  isso", diz. 

A relação entre as Forças Armadas e a Missang vinha a deteriorar-se  nos últimos tempos mas azedou ainda mais quando o embaixador de Angola em  Bissau disse a António Indjai, chefe do Estado Maior General das Forças  Armadas, que tinha informações de que estava a ser preparado um golpe militar,  conta Daba Na Walna. E o golpe final terá sido, continua, após o conhecimento de uma carta  que o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, teria escrito ao secretário-geral  da ONU a pedir uma força das Nações Unidas.  

A carta foi divulgada na quarta-feira e apesar de assinada não foi escrita  em papel timbrado nem tem qualquer carimbo. "Se quiséssemos mentir e forçar  provas teríamos obrigado o primeiro-ministro a pôr o timbrado da primatura  (gabinete do primeiro-ministro). Tivemos a carta através de Carlos Pinto  Pereira (antigo assessor jurídico de Henrique Rosa quando este foi Presidente  interino e assessor jurídico de Carlos Gomes Júnior). Vimos que não era  timbrada mas entregámos porque estamos certos, se estivermos a mentir Deus  sabe", diz o militar. 

E o pior, diz também, é que a carta foi entregue ao ministro dos Negócios  Estrangeiros de Angola, Georges Chicoti. "Ainda que admitamos que a carta  pudesse ter algum sentido, o portador não devia ser o ministro das Relações  Exteriores de Angola, não somos um protetorado de Angola". 

Por isso, conclui: "Para nós era uma cabala a ser montada contra nós  e o objetivo da vinda estrangeira era simplesmente esmagar as Forças Armadas  da Guiné". 

  Lusa

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