terça-feira, 4 de junho de 2013

Comunidade islâmica preocupada com presença de xiitas

Bissau - A comunidade islâmica da Guiné-Bissau manifestou-se preocupada com a presença cada vez maior de muçulmanos xiitas e chama a atenção das autoridades "para os riscos de conflitos" que estes poderão trazer ao país

    Recentemente uma ONG islâmica, a Ajures, Associação Juvenil para a Reinserção Social, juntou, em Bissau, num seminário, mais de 200 imãs e apeladores (sensibilizadores) islâmicos para falar sobre a "crescente presença de xiitas na Guiné-Bissau". 


    A Lusa falou com alguns dos intervenientes, tendo o xeque Malam Djassi, da Ajures, dito que a presença dos xiitas "pode trazer um conflito interno entre os muçulmanos", pelo que apelou para uma intervenção das autoridades, ao mesmo tempo que exortou para o reforço da sensibilização junto dos fiéis.


    "Não temos força para tirar esses elementos xiitas do nosso país, mas podemos chamar a atenção do Estado, porque se um dia houver aqui uma carnificina entre os muçulmanos seria mau para o nosso país", defendeu Malam Djassi, para quem os seguidores do islamismo na Guiné-Bissau têm pouca informação sobre os diferentes grupos islâmicas. 


    O imã Aliu Bodjan, líder da principal mesquita de Bissau, enfatizou que a presença dos xiitas em grande número em certos países traz sempre a instabilidade. 


    "Pedimos a Alá para que isso não venha a acontecer no nosso país. Vejam o caso da Nigéria, onde a seita Boko Haram faz aquelas atrocidades em nome do islão", disse hoje o imã Bodjan, também em declarações à Lusa. 


    Para o imã Mamadu Iaia Djaló, também da mesquita central de Bissau, o problema reside no facto de os xiitas andarem a dar dinheiro às pessoas para que estas adiram "à sua propaganda". 
    "Chegam a pagar até 50 mil francos para atrair os fiéis, com alegação de que somos todos muçulmanos, mas se for este o caso porque dão dinheiro aos fiéis?", questionou o imã Iaia Djaló. 


    Este responsável disse que o "perigo" da invasão dos xiitas se nota sobretudo em países africanos ao sul do Sahara aproveitando-se da pobreza da população. Iaia Djaló enfatizou que os angariadores de fiéis "estão trabalhar a cabeça das pessoas" para "coisas que ninguém sabe". 


    De acordo com os líderes islâmicos guineenses, o terrorismo e o radicalismo islâmico são as principais caraterísticas personificadas pelos xiitas, sublinhando que esses problemas poderão chegar ao país. 


    Na Guiné-Bissau, como em quase todos os países africanos, a maioria da comunidade islâmica pratica a corrente sunita do islão. 
    O xeque Malam Djassi explicou que a presença dos elementos xiitas na Guiné-Bissau já está a trazer conflitos em certas zonas do país. 


    "Existem em toda parte da Guiné-Bissau. Na região de Gabu (leste) construíram lá uma grande mesquita. Há zonas em que já tiveram conflitos com a nossa gente e até foram parar na polícia", disse Malam Djassi.   


    "Se entrares no caminho deles e se um dia quiseres sair podes até ser morto por eles", afirmou. 


    Os sunitas e os xiitas são as duas principais correntes da religião islâmica, mas que se diferenciam em relação ao profeta Maomé e sua descendência. Enquanto os sunitas se consideram os sucessores diretos do profeta Maomé, os xiitas não concordam e defendem que o profeta deveria ser Ali, genro do próprio Maomé. 


    Os sunitas correspondem a 85% de fiéis da religião islâmica no mundo, com uma grande maioria em países como Arábia Saudita, Egipto e Indonésia. No entanto, os xiitas predominam em países como Irão e Iraque. 

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