O programa nacional de luta contra SIDA na Guiné-Bissau está há mais de cinco meses sem dinheiro para acudir aos doentes, na sequência de falta de apoios financeiros provenientes do Fundo Global, disse o responsável do programa, citado pela agência Lusa.
Antigo ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, João José Monteiro afirmou que há mais de cinco meses que a Guiné-Bissau deixou de receber verbas do Fundo Global das Nações Unidas para o tratamento aos doentes.
"O Fundo Global, embora diga que não, está a fazer economias e depois alega a questão da alteração da ordem constitucional para justificar atrasos incompreensíveis na transferência de verbas que possam ajudar a continuar o trabalho que estamos a fazer", disse José Monteiro.
"A situação é grave. Por exemplo, na área do tratamento há três ou quatro elementos que podemos citar, há quatro/cinco meses que o secretariado não tem conseguido pagar os exames biológicos aos pacientes. Como os tratamentos são pesados, há um grupo de activistas que acompanham os doentes nos tratamentos, mas há muito tempo que esses activistas não recebem os seus subsídios", exemplificou.
O coordenador do secretariado nacional de luta contra SIDA na Guiné-Bissau apontou ainda os constrangimentos burocráticos que a instituição que dirige tem sofrido por falta de fundos.
"Aqui no escritório há mais de cinco meses que não recebemos salários. Antigamente tínhamos energia permanente, mas agora não temos energia, não temos Internet e telefone", observou Monteiro, sublinhando que tudo isso afecta a chamada "resposta nacional" no combate à doença.
"Há medicamentos que chegam ao país mas que ficam nas alfândegas porque não temos dinheiro para o desalfandegamento, temos cerca de oito milhões de preservativos oferecidos pelo Brasil e Fundo Global mas que estão desde Dezembro no porto de Bissau e não conseguimos fazê-los sair", declarou João José Monteiro.
"O impacto é muito negativo. Não diria que a luta contra a sida na Guiné-Bissau esteja em risco, mas temos que repensar o financiamento da luta contra a doença. O financiamento não pode repousar apenas nos apoios internacionais. Tem que haver uma verba do Estado da Guiné-Bissau para o combate à SIDA", disse o responsável.
O Fundo Global pergunta-me se os bancos estão a funcionar.
Noutro dia diziam-me que a maioria dos Governos (que financiam o Fundo Global) não reconhece o (actual) Governo da Guiné-Bissau. E por aí fora. Portanto são questões ligadas à instabilidade permanente que o país vive", explicou José Monteiro ao referir-se a relutância do Fundo Global em desbloquear as verbas.
"Este problema da instabilidade também mexe com a estabilidade do financiamento do programa de luta contra SIDA. Mas, temos que dizer ao Fundo Global que a luta contra a SIDA é uma acção humanitária e precisamente em momentos de instabilidade política que é mais necessário a sua ajuda" ao país, notou José Monteiro.
A Guiné-Bissau tem um Governo e um Presidente que gerem um período de transição de 12 meses, mas a maioria da comunidade internacional não reconhece essas autoridades por terem sido criadas na sequência do golpe de Estado perpetrado por militares a 12 de Abril último.
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