segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Greve em universidades brasileiras afecta estudantes lusófonos

A greve de dois meses e meio dos professores e funcionários das universidades federais brasileiras está a afectar estudantes estrangeiros lusófonos, que têm as aulas suspensas e as dependências das faculdades, como bibliotecas e refeitórios, encerrados.

O estudante de Guiné-Bissau Demarbique Carlos Sanca, 25 anos, que estuda Arquitetura na Universidade de Brasília (UnB), afirma que teve quatro das cinco disciplinas paralisadas no começo de Junho (no Brasil, o primeiro semestre de aulas vai de Janeiro ao fim de Junho, com férias em Julho).

"Assim que a greve acabar, vamos retomar onde parámos, e as aulas vão avançar no período de férias do fim do ano. Se [a paralisação] continuar, pode atrasar minha formação", diz o estudante, que já passou por outras duas greves na universidade, nos quatro anos de permanência no Brasil.

Para o guineense, a paralisação trouxe outro problema: não conseguiu renovar junto da Universidade a bolsa de 622 reais (247,70 euros) que recebe do Governo brasileiro.

O angolano José Lohame Capinga, 25 anos, também teve as aulas paradas antes do tempo na Universidade Federal de São Carlos, no estado de São Paulo.

O seu maior medo é de que o curso de Ciências da Computadores se prolongue pelo mês de Dezembro, pois tem passagem aérea para Angola já comprada.

"O lado positivo é que a paralisação pode conseguir melhorias para o ensino brasileiro, mas ninguém vai cobrir a minha passagem de volta se eu a perder", diz Capinga.

Outros estudantes entrevistados pela Lusa, que estão na fase de estágio na licenciatura e de pós-graduação, afirmaram que as suas orientações não foram interrompidas. Mas alguns foram afectados pelo encerramento de dependências das universidades.

O português Sérgio Marques, 25 anos, que faz um doutoramento em Engenharia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, não pode usar o restaurante universitário, que tem preços mais baixos. Actualmente, gasta até 13 reais (5,20 euros) num almoço que, na faculdade, custava 1,30 reais (0,52 euros).

O guineense Hiaosmin Vanderlei Tavares Costa, 27 anos, em estágio na área de Biblioteconomia, ficou sem acesso à biblioteca e aos computadores da Universidade de Brasília, o que afecta a realização do seu trabalho de fim de curso, que tem de entregar ainda este ano.

Dados do último censo universitário do Ministério da Educação, de 2010, mostram que estudavam em universidades federais 178 angolanos, 420 cabo-verdianos, 380 guineenses, 40 moçambicanos, 280 portugueses e 61 são-tomenses.

Actualmente, 57 das 59 universidades federais estão paralisadas, segundo o sindicato dos docentes das instituições de ensino superior (Andes). A greve começou em 17 de maio, mas a adesão das entidades foi gradual.

Para acabar com a paralisação, o Governo brasileiro apresentou na última terça-feira uma segunda proposta de reajuste salarial, que varia entre 25 por cento e 45 por cento, a ser completado em três anos, a partir de Março de 2013.

A proposta foi aceite apenas por uma das três entidades sindicais que lideram a greve, e o Governo encerrou as negociações.

Entre as reivindicações dos professores estão, além da melhoria nos salários, a reestruturação do regime de progressão da carreira.

Lusa

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