O Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau (Uniogbis) está a promover uma ação de sensibilização e capacitação destinada às mulheres guineenses para que se interessem mais pela política.
A ação de formação junta 35 mulheres provenientes de partidos políticos mas com pouca visibilidade, sindicalistas, ativistas dos direitos humanos, promotores de organizações não-governamentais (ONG) e jornalistas e decore até meados deste mês.
A escritora e antiga ministra da Educação guineense Odete Semedo, uma das responsáveis da formação, disse à Agência Lusa que a ideia é "dar instrumentos e incentivos" às mulheres para que possam "um dia apresentarem-se aos cargos eletivos".
"Há potencialidades naquele grupo. São mulheres com formação, mas escondidas nas suas instituições ou nos seus partidos. Com ajuda da Uniogbis chamamos essas mulheres a entenderem que são potenciais governantes deste país", notou Odete Semedo.
Para a antiga ministra e diretora de gabinete do Presidente guineense deposto no golpe de Estado de 12 de abril último, Raimundo Pereira, as próprias leis da Guiné-Bissau "colocam a mulher em quinto ou sexto plano".
"Na mente dos homens que têm estado a dirigir este país a mulher não é prioridade. A mulher só aparece nos comícios, quando é para se fazer bons discursos, mas quando é de facto para se pôr a mão na massa a mulher é esquecida", defendeu a escritora, dando o exemplo da composição de listas eleitorais dos partidos.
"Quando é para se fazer as listas eleitorais a mulher nunca aparece como cabeça de lista. Aparece sempre como suplente ou então se aparece é nos círculos onde tenha pouca probabilidade de ser eleita", disse Odete Semedo.
A portuguesa Sara Negrão, conselheira do Género na Uniogbis tem a mesma opinião: "Existem muito poucas mulheres que participam, de forma ativa na vida política. Uma coisa é participar numa campanha, outra coisa é participar de forma ativa nos partidos, na tomada de decisão nacional", notou a responsável da ONU.
Tanto Odete Semedo como Sara Negrão, as duas animadoras da formação, entendem que fixando as quotas era possível inverter a tendência da exclusão da mulher guineense nos órgãos de decisão.
Odete Semedo considerou, no entanto, que as quotas devem privilegiar as mulheres mais capazes porque há "muitas escondidas" nas ONG e nos partidos "sem visibilidade".
"Há mulheres muito capazes que estão nas organizações não-governamentais, que estão a dar um grande contributo à sociedade, são essas mulheres que pretendemos incentivar com essa ação de formação para que venham para a política partidária", afirmou Odete Semedo.
"É ali que as propostas são discutidas, as leis são aprovadas, é ali que todo o trama é feito", acrescentou a antiga governante, citando o seu próprio exemplo de militante no PAIGC, principal partido do país.
"Eu estou no meu partido (PAIGC), sou visível, faço trabalhos para o meu partido, agora só não vê quem não quer. Os homens não querem ver as mulheres. Há um véu que tapa a presença da mulher", enalteceu Odete Semedo.
A história e a cultura colocaram a mulher em segundo plano, observou, considerando que o país podia mudar se tivesse mais mulheres no poder.
"A Guiné-Bissau saia deste marasmo se tivesse mais mulheres nas esferas de decisão. Os homens já demonstraram que não são capazes de governar este país na paz", concluiu Odete Semedo.
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